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    Festas de casamento suntuosas endividam noivos no Afeganistão

    JOSEPH GOLDSTEIN
    DE "THE NEW YORK TIMES", EM CABUL (AFEGANISTÃO)

    25/04/2015 02h00

    Quando Shafiqullah chegou a seu casamento, surpreendeu-se ao encontrar 600 pessoas a mais no salão, nenhuma das quais reconheceu.

    Mesmo assim, ele sabia qual era sua obrigação social. "Se eu não lhes servisse, teria sido motivo de desonra para mim e teria acabado com a felicidade do meu casamento", comentou o noivo, que tem 31 anos e é vendedor de carros.

    Assim, mandou o bufê dobrar comida e bebida, elevando o custo da festa a quase US$ 30 mil.

    Histórias como a dele são comuns no Afeganistão, onde as festas de casamento são demonstrações de compromisso com a hospitalidade e com a devoção à família e à comunidade.

    Mas a obrigação de promover uma festa para quase um pequeno vilarejo vem sendo financeiramente devastadora para muitos jovens afegãos, que, para se casarem, contraem empréstimos que levarão anos para ser saldados.

    O Parlamento afegão resolveu intervir e recentemente escolheu como alvo a "indústria" de casamentos em Cabul. Com o apoio entusiasmado de jovens, legisladores aprovaram uma lei que define em 500 o número máximo de convidados que podem ser recebidos nos gigantescos salões de casamento da cidade. A lei aguarda a aprovação final.

    Em muitos países, um casal jovem poderia ter dificuldade em encontrar 500 convidados para festejar seu casamento. Mas os afegãos não têm esse problema.

    Considere a lista original de convidados à festa de casamento de Shafiqullah, seis meses atrás, que tinha 700 nomes.

    Além dos convidados da noiva, Shafiqullah convidou "meus primos, primos dos meus primos, meus vizinhos; pessoas que moram na área em volta, o pessoal do vilarejo onde eu morava antes de vir para Cabul e entre cem e 150 colegas vendedores de carros."

    Mas, entre as 1.300 pessoas reunidas no salão, ele teve dificuldade em diferenciar convidados dos desconhecidos. "Não reconheci nem a metade das pessoas na seção masculina."

    As multidões que lotam os salões de casamento de Cabul todas as noites deram lugar a uma subcultura de "toi paal", ou penetras em festas de casamento.

    São homens não convidados que frequentam um trecho da avenida do aeroporto apelidado de Las Vegas, devido às luzes de neon e aos vidros espelhados dos salões.

    Como as festas são segregadas por gênero, a atração não é a possibilidade de conhecer mulheres, mas o banquete com carne de carneiro, frango e "kabuli pulao" (um "pilaf" tradicional de carneiro).

    A maioria dos rapazes de Cabul parece conhecer o ditado segundo o qual "com um casamento por noite, ninguém passa fome".

    Entre os defensores mais ferrenhos da nova lei estão homens jovens. "Exijo que o presidente sancione esta lei", disse Jawed, 24, que vende tecidos. "Suplico a ele que o faça o quanto antes, para que pessoas como eu possamos nos casar sem demora."

    O alto custo obriga alguns casais a esperar anos . Noivo há sete anos, o dono de papelaria Ahmed Walid Sultani disse que sonha em algum dia poder imprimir os convites de seu próprio casamento.

    Os noivos também têm que comprar joias de ouro para a noiva e precisam pagar "preço de noiva", um valor que o noivo entrega à noiva ou a sua família, para que ela possa ter um bem para controlar.

    Um gerente, Sayed Yaqoot, disse que a lei será catastrófica para os salões. "O que os garçons farão se perderem seus empregos? Vão se juntar ao Taleban?"

    Tradução de CLARA ALLAIN

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