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    'Quando desespero é ignorado, a raiva começa', diz morador de Baltimore

    GIULIANA VALLONE
    ENVIADA ESPECIAL A BALTIMORE

    28/04/2015 16h20

    Após uma noite de protestos violentos, que resultaram em 19 policiais feridos e mais de 200 detidos, a cidade de Baltimore, no Estado norte-americano de Maryland, vive uma terça-feira (28) fora de sua rotina habitual e com clima de tensão.

    O estopim da violência foi o caso do jovem negro Freddie Gray, 25, morto no último dia 19 depois de ser ferido durante sua prisão.

    Desde o início da manhã, cerca de 200 agentes da Guarda Nacional estão concentrados em pontos da cidade, como o porto de Inner Harbor, conhecido local de turismo da cidade, e a delegacia do Western District, atacada na véspera pelos manifestantes.

    "O que eles estão fazendo aqui?", questionou um homem em frente ao Aquário de Baltimore, ao ver os soldados armados na região turística. "Não houve nada nessa região ontem. Eles deveriam estar onde os problemas aconteceram."

    Na região oeste da cidade, próxima à esquina das avenidas Pensilvânia e West North, em que uma farmácia CVS foi queimada e houve confrontos entre manifestantes e policiais, centenas de moradores usavam vassouras doadas por comércios locais para limpar as ruas e casas do entorno.

    A área era vigiada de perto por tropas estaduais, protegidas por capacetes, escudos e armas, e por soldados da Guarda Nacional, posicionados na cobertura de prédios da região.

    A reportagem da Folha presenciou diversas discussões entre as pessoas reunidas na avenida Pensilvânia. Muitos deles discordavam da violência registrada na noite anterior.

    "Os tumultos não definem o nosso esforço por Justiça para Freddie Gray", afirmava um homem em um alto-falante. "Parem de destruir a cidade."

    "Destruir a sua própria comunidade não é uma coisa esperta a se fazer, mas é só o que eles conhecem", disse Montreal Haygood, 27, morador do bairro. "Quando o desespero é ignorado, a raiva começa."

    Pery Hopkins, 54, líder comunitário, chamou os manifestantes que provocaram os distúrbios de hipócritas. "O propósito era chamar a atenção para a morte de Freddie, ter uma conclusão para esse caso. Em vez disso, o assunto virou a destruição."

    Por volta de 12h30 locais (13h30 no Brasil), um jovem que gritava com outros moradores foi preso pela polícia. As pessoas que estavam no local se assustaram e houve grande correria —os agentes, no entanto, não usaram armas ou gás lacrimogêneo.

    Na segunda, grupos de jovens, em sua maioria adolescentes negros, atearam fogo em 144 veículos e 15 construções, e arremessaram pedras, tijolos e pedaços de cano contra os policiais. Diversas lojas foram saqueadas.

    De acordo com a Prefeitura de Baltimore, entre os 19 policiais feridos, seis estavam em estado grave. Após os confrontos, o governador de Maryland, Larry Hogan, declarou estado de emergência e convocou a Guarda Nacional para conter os distúrbios.

    A prefeita de Baltimore, Stephanie Rawlings-Blake, impôs um toque de recolher na cidade, das 22h às 5h.

    Com 622 mil habitantes, Baltimore foge do perfil racial de Maryland e tem maioria negra 63% da população. A cidade fica a apenas 40 minutos de trem da capital americana, Washington.

    Nos últimos meses, casos de negros mortos por policiais nos EUA causaram protestos em todo o país. Entre os casos emblemáticos estão os de Michael Brown, 18, em Ferguson (Missouri), e de Eric Garner, 43, em Nova York.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Negros mortos por policiais nos EUAAlguns casos emblemáticos

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