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    Sob risco de derrota nas urnas, premiê britânico ataca até aliados

    LEANDRO COLON
    ENVIADO ESPECIAL A BATH

    05/05/2015 02h00

    Politicamente isolado na reta final da campanha e diante do risco real de perder as eleições de quinta-feira (7), o premiê britânico, David Cameron (Partido Conservador), decidiu atacar não só adversários, mas os próprios aliados, os liberais-democratas.

    "Se vocês querem que eu permaneça como primeiro-ministro, votem no Partido Conservador, e não no Liberal-Democrata", afirmou nesta segunda (4), em um evento fechado em Bath, a 160 km de Londres, a cerca de 300 simpatizantes do seu partido.

    Dan Kitwood/AFP
    David Cameron participa de evento de campanha do Partido Conservador nesta segunda em Bath
    David Cameron participa de evento de campanha do Partido Conservador nesta segunda em Bath

    Cameron afirmou que o líder do Liberal-Democratas e vice premiê, Nick Clegg, negocia acordo com o Partido Trabalhista para tirá-lo do poder, ao lado do SNP (Partido Nacional da Escócia).

    Pesquisas apontam que os conservadores devem ficar em primeiro lugar na eleição, com algo entre 270 e 280 cadeiras, mas sem atingir a maioria de 326 –de um total de 650 do Parlamento– para governar sozinho.

    Será o "hung parliament", ou parlamento enforcado, em que nenhum partido obtém maioria para indicar o premiê. Foi assim em 2010, quando Cameron foi eleito após uma coalizão com os liberais-democratas. Desta vez, espera-se uma fragmentação muito maior e uma longa negociação política.

    Os liberais-democratas se afastaram dos conservadores durante a campanha e já sinalizaram que não querem fechar novo acordo.

    A rígida política de austeridade fiscal do governo ajudou a recuperar a economia, mas sofre resistência da população. O ajuste nas contas públicas e benefícios sociais pesou sobre a popularidade do partido de Nick Clegg, sensação das eleições de 2010 e que agora deve sofrer um revés considerável nas urnas.

    Ou seja, praticamente isolado, restaria a David Cameron torcer para atingir a maioria na eleição –caso contrário, corre sério risco de ver o líder trabalhista, Ed Miliband, fazendo alianças para assumir o poder.

    "A matemática eleitoral é muito desafiadora para Cameron e o Partido Conservador. Apesar do provável status de maior partido, poderão ficar fora do governo", destacou à Folha o especialista em política britânica Sean Kippin, da London School of Economics (LSE).

    Editoria de arte/Folhapress

    ECONOMIA

    Em Bath, Cameron repetiu o discurso de que o Partido Trabalhista seria um risco para a estabilidade da economia, ainda mais apoiado pelo SNP, partido que defende a independência da Escócia.

    Os escoceses, aliás, devem ser os grandes vitoriosos na quinta-feira. Enquanto os dois partidos tradicionais, conservadores e trabalhistas, perdem votos e precisam de apoio para indicar o primeiro-ministro, o SNP deve obter mais de 50 das 59 cadeiras da Escócia em Londres –hoje tem só seis– e se tornar a terceira força do Parlamento.

    A líder do partido, Nicola Sturgeon, já disse que, se depender dela, os conservadores vão deixar Downing Street (a sede do governo), nem que seja para dar aos trabalhistas o chamado "governo de minoria", em que o SNP ajudaria a eleger Miliband, mas sem integrar o governo dele.

    David Cameron vive uma situação inusitada.

    Os números econômicos são positivos, como o maior crescimento na Europa em 2014 (2,8%) e uma taxa de desemprego de apenas 5,5%.

    Ele tem se amparado na economia para defender sua permanência no poder. Alega que o corte de £ 100 bilhões nas contas públicas desde 2010 foram essenciais para o crescimento.

    "Economia é tudo no país", disse em Bath. E continuou: "Faça você mesmo uma pergunta: você confia em Ed Miliband para comandar a economia britânica?".

    O líder trabalhista, por sua vez, afirma que a austeridade fiscal elevou o custo de vida da população e afetou os serviços públicos, como o NHS, o sistema de saúde do Reino Unido.

    Apesar do crescimento econômico, Cameron não consegue aumentar a sua popularidade entre os britânicos.

    Em pesquisa recente do instituto Yougov, 47% afirmaram que ele está indo "bem" no cargo, mesmo patamar dos que acham seu desempenho "ruim". Em 2011, quando completou um ano de governo, em meio a uma economia ainda em recuperação, o patamar era quase o mesmo.

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