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    análise

    A ofensiva diplomática da Rússia para o Oriente Médio

    MÁRIO CHIMANOVITCH
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    05/05/2015 09h56

    A Rússia traça uma nova estratégia diplomática e militar para o Oriente Médio. O objetivo de Moscou é recuperar a forte influência que exercia sobre a região até às vésperas da guerra civil na Síria. Nessa nova estratégia, os russos querem fazer do Irã, potencialmente o país mais poderoso da região, à exceção de Israel, o pivô de sua atuação.

    Essa análise está sendo compartilhada por observadores que atuam junto ao gabinete do primeiro-ministro de Israel e próximos ao Estado-Maior das Forças Armadas.

    Ela pode ser explicada a partir de dois fatos que, embora pareçam não manter nenhuma correlação entre si, evidenciam que o presidente russo, Vladimir Putin, tem como objetivo minar até onde for possível a influência dos Estados Unidos junto a Teerã —através das concessões feitas no escopo do acordo nuclear— e relegar Israel, o aliado tradicional, a um segundo plano.

    O primeiro fato indicador da nova ofensiva russa está explícito no encontro mantido, mês passado, entre Putin e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, em Moscou. O "timing" da visita, se acontecimento isolado, não despertaria maiores elucubrações dos analistas uma vez que Abbas tem visitado o Kremlin anualmente.

    Todavia, essa visita foi seguida do surpreendente anúncio de Moscou de que está liberando o fornecimento dos mísseis S-300 ao Irã.

    Difícil ignorar essa coincidência, argumentam os analistas israelenses. "Trata-se de uma mensagem clara do que a Rússia pretende no Oriente Médio", ressalta a sua vez Sarah Fainberg, do Instituto Nacional de Estudos de Segurança.

    Todavia, a administração Obama tem uma visão divergente do assunto. Josh Earnest, porta-voz da Casa Branca, afirma que a venda dos S-300 ao Irã indica tão somente que os russos, premidos pelas sanções econômicas resultantes da crise na Ucrânia, necessitam desesperadamente de divisas.

    Para os analistas israelenses, o norte-americano está equivocado. Segundo o que tem sido publicado na imprensa de Tel Aviv, o impacto que essa venda exerceria na economia russa será extremamente limitado, ao passo que o seu efeito político é enorme.

    "A razão decisiva para essa manobra russa face o Irã é de natureza geopolítica", afirmou um analista do "Haaretz". Segundo ele, a estratégia russa explica por outro lado a intensificação das suas atividades diplomáticas nas últimas semanas tanto na Turquia, como no Egito, Jordânia, Yemen e, é claro, Irã.

    Ao mesmo tempo os russos trabalham para conter a expansão do fundamentalismo sunita ao longo de suas fronteiras ao sul. Moscou observa que o número de combatentes chechenos na Síria e no Iraque tem aumentado consideravelmente.

    A nova estratégia implica também em fazer com que a Autoridade Palestina esteja mais próxima do Irã. As implicações positivas inseridas nesse contexto objetivam trazer uma maior estabilidade ao Oriente Médio com a presença de um Irã não nuclear, mas militar e politicamente poderoso. Um Irã, inclusive, que deixe de se constituir numa ameaça latente a Israel.

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