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    Índigenas do norte da Califórnia perseguem um rival astuto e saboroso

    PATRICIA LEIGH BROWN
    DE "THE NEW YORK TIMES", EM KLAMATH (CALIFÓRNIA)

    09/05/2015 02h00

    A pesca de enguias na turbulenta desembocadura do rio Klamath começa no fim do inverno, quando as garças azuis voltam a pousar nas margens.

    É o momento em que os pescadores indígenas yurok ficam parados com seus anzóis durante horas nas ondas fortes para capturar uma especialidade da estação: um peixe parecido com uma cobra, com uma boca que suga e dentes afiados, que é uma iguaria para os yuroks há séculos.

    "Você precisa rezar toda vez que vem para cá", disse James Gensaw, que está acostumado a tropeçar nas pedras do rio para alcançar a área predileta das enguias, uma faixa de areia batida.

    O Klamath, cuja foz fica a cerca de 65 quilômetros ao sul da divisa com o Oregon, é o lar ancestral dos yuroks. Coberto de florestas de sequoias, também é um território para a procriação de enguias, salmões, pintados e trutas.

    Normalmente chamados de enguias, os peixes são na verdade lampreias do Pacífico, que se alimentam de fluidos corporais de outros peixes.

    Elas são adversários astutos. Suas barrigas brancas e prateadas aparecem em brilhos rápidos na curva das ondas, exigindo do pescador olhar atento, decisão firme e um pouco de sorte. O melhor momento para apanhá-las é na maré baixa. É quando as que vêm do oceano para desovar no rio chegam mais perto da praia, de carona nas ondas.

    Gensaw estende o corpo para fisgar um peixe com seu anzol na fração de segundo antes de quebrar a onda. Ele o puxa da água, gira sobre o ombro e em círculos sobre sua cabeça. A força do movimento impede que o peixe escape.

    Como esses animais são principalmente noturnos, os pescadores chegam à praia à noite, quando a neblina densa cobre a foz. Suas lanternas iluminam as ondas. Não é para os fracos de coração. "Já perdemos várias pessoas aqui que queriam só mais uma enguia", disse Dewey Myers, que é conhecido por seus arpões entalhados com requinte.

    As lampreias aparecem no rio antes da desova de salmões, "ajudando nosso povo a passar o inverno", disse Barry McCovey, um biólogo dos pesqueiros yuroks.

    O índice de desemprego na reserva varia de 30 a 75%. As únicas lojas de alimentos são minimercados nos postos de gasolina, e há uma temporada agrícola limitada. "Eu vejo nisso como fazer compras no mercado", disse Gensaw.

    A população de lampreias declinou de modo significativo em todo o norte da Califórnia, segundo Damon H. Goodman, do Serviço Federal de Pesca e Vida Natural. As represas intransponíveis são uma das causas principais, disse ele.

    Pescadores de enguias como Gensaw querem transmitir essa tradição. Seu filho James Jr., 8, treina no quintal com um anzol e um pedaço de mangueira de 60 cm, mais ou menos o comprimento de uma enguia adulta.

    Certa manhã, na foz do Klamath, um pescador que passou a noite em claro dormia sobre um tronco. "Você fica teimoso quando está lá", disse Myers. "Sabe que assim que se afastar verá uma enguia."

    Tradução de LUIZ ROBERTO GONÇALVES

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