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    Telejornal apresentado por mexicano vira peça-chave em eleição americana

    RAUL JUSTE LORES
    ENVIADO ESPECIAL A MIAMI

    10/05/2015 02h00

    Na lista das cem pessoas mais influentes do mundo da revista "Time" há apenas um jornalista da TV americana –o mexicano Jorge Ramos, 57, que fez a maior parte da sua carreira apresentando notícias em espanhol.

    Na lista, em que constam dois brasileiros (Jorge Paulo Lemann e Gabriel Medina), ele não foi incluído entre as personalidades de TV, mas, sim, entre os "líderes", ao lado de chefes de governo como Obama, Merkel, o indiano Modi e o chinês Xi Jinping.

    A veterana Christiane Amanpour, da CNN, diz que ele é o "âncora da América", que não tem medo de usar sua voz poderosa.

    O sucesso de Ramos, há 29 anos âncora da Univision, maior canal em espanhol dos EUA, comprova a força política e econômica dos latino-americanos nos EUA.

    "Hoje ninguém mais chega à Casa Branca sem o voto latino", disse Ramos à Folha, em sua sala, na redação de quase 600 jornalistas em Doral, na Grande Miami.

    "Há 55 milhões de latinos nos EUA, mas 16 milhões devem votar na eleição de 2016. As pessoas sem voz esperam que nós, jornalistas, falemos por elas. Obama ganhou por 5 milhões de votos. Quem pode ignorar 16 milhões?".

    Ele sabe que seu telejornal virou peça-chave nas campanhas e diz que vai questionar a todos sobre o que fazer com os imigrantes sem papéis.

    Ramos entrevistou Obama quatro vezes e endureceu há dois anos ao cobrar a promessa de uma reforma imigratória que não saíra do papel.

    No mês passado, perguntou ao pré-candidato republicano Marco Rubio, senador pela Flórida contrário ao casamento gay, se iria ao casamento de um parente ou amigo que fosse homossexual. Rubio tentou evitar responder, mas, diante da insistência de Ramos, disse que iria.

    Brendan McDermid/Reuters
    O jornalista mexicano Jorge Ramos, âncora do canal Univision
    O jornalista mexicano Jorge Ramos, âncora do canal Univision

    VALENTE

    O apresentador credita sua fama de "jornalista valente" a quase 30 anos de perguntas difíceis a líderes, de Fidel Castro a presidentes mexicanos e sul-americanos. "Posso questionar e voltar aqui para os EUA, sem temer censura ou desemprego", diz.

    Ele admite que sua visibilidade aumentou muito ao ganhar um programa diário em inglês no novo canal Fusion, parceria da Disney/ABC com a Univision.

    Os temas dos imigrantes sem papéis, da política latino-americana e da guerra às drogas recebem de Ramos espaço bem maior que o visto nas demais redes dos EUA.

    "Falo para a geração mais globalizada da história americana. Falar só de EUA na TV seria muito provinciano e antiquado. Posso falar de corrupção no México e de autoritarismo e presos políticos na Venezuela", explica, lembrando que chamou a construção do muro na fronteira dos EUA com o México de "novo muro de Berlim".

    "Os americanos não se sentem responsáveis pela guerra às drogas, não entendem que o consumo de milhões aqui mata milhares na América Central e no México."

    "Mas, por outro lado, os EUA já viraram a página desse assunto. A maioria quer a liberalização da maconha, e até Obama disse que o álcool é mais perigoso que ela."

    "Caminhamos para a descriminalização do uso nos EUA, mas na América Latina ainda nos matamos por isso".

    Apesar de sua influência, ele diz se considerar um "dinossauro" do jornalismo.

    "A ideia de que as pessoas têm um encontro diário comigo às 18h30 para saber o que aconteceu no mundo é jurássica. Esse tipo de TV vai desaparecer. Eu vou atrás dos jovens, que nem TV têm."

    Mas ele é otimista sobre seu público. "Imigrantes da América Latina chegam todos os anos, falando espanhol, e sua natalidade é bem mais alta que a americana. A latinização dos EUA não vai parar."

    Ele não sabe dizer se a numerosa comunidade brasileira na Flórida assiste a seus programas. Mas provoca: "Os brasileiros se consideram como latino-americanos ou não?", pergunta. "Muitos dizem que não, então imagino que não se identifiquem."

    "Os dois lados têm tantas coisas em comum, mas jamais vi um esforço de lado a lado para se aproximarem. Nem da parte política, nem acadêmica, nem empresarial. Uma pena."

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