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    Freira diz que Tsarnaev sente remorso por atentado na Maratona de Boston

    KATHARINE Q. SEELYE
    DO THE "NEW YORK TIMES", EM BOSTON

    11/05/2015 19h57

    Em um momento dramático ao final da argumentação da defesa de Dzhokhar Tsarnaev, acusado do atentado na Maratona de Boston, em 2013, a irmã Helen Prejean, freira católica conhecida por ser contrária à pena de morte, disse nesta segunda-feira (11) que Tsarnaev expressou remorso pelas pessoas que matou e mutilou.

    Ela se encontrou com ele na prisão cinco vezes desde março; a conversa mais recente entre os dois aconteceu alguns dias atrás. Prejean declarou que leu sobre o Alcorão e a fé muçulmana e conseguiu estabelecer uma relação de confiança com o acusado.

    "Ele declarou enfaticamente que ninguém merecia sofrer como aquelas pessoas", depôs a freira. Ela disse acreditar que Tsarnaev havia sido "absolutamente sincero".

    Questionada sobre a voz do acusado ao fazer a declaração, Prejean, 76, disse que "a dor era aparente, na verdade, quando ele disse que ninguém merecia aquilo. Tenho todos os motivos para acreditar que ele estava refletindo e genuinamente arrependido pelo que fez".

    Mirian Conrad, a advogada de defesa que estava conduzindo o depoimento de Prejean, perguntou se ela diria ao júri que ele "sentia remorso de verdade" se não acreditasse nisso.

    "Não, não diria", respondeu Prejean, cujo livro, "Dead Man Walking", serviu como base para o filme "Os Últimos Passos de um Homem", estrelado por Susan Sarandon.

    O depoimento da freira foi a primeira indicação, para o júri, de que Tsarnaev expressou algum remorso por suas ações. Desde que os jurados começaram a ser selecionados, em janeiro, o comportamento do acusado no tribunal vem sendo impassível. Ele se senta largado na cadeira e raramente olha para as testemunhas, incluindo pessoas mutiladas pelas bombas, ou para os familiares das pessoas que matou. Tsarnaev não depôs.

    O júri o condenou no mês passado por todas as acusações relacionadas ao ataque, no qual três pessoas morreram e outras 264 saíram feridas, entre as quais as 17 que perderam as pernas.

    Na segunda fase do julgamento, o governo, que concluiu a fase de acusação um mês atrás, quer que o júri sentencie Tsarnaev à pena de morte. A defesa está solicitando uma sentença de prisão perpétua sem direito a liberdade condicional.

    A defesa concluiu sua argumentação na segunda-feira, depois do depoimento de Prejean. A defesa e a acusação devem fazer seu encerramento na quarta-feira, dia em que o júri poderá começar suas deliberações.

    Houve debate considerável sobre se o juiz George O'Toole Jr., da primeira instância federal norte-americana, o encarregado do caso, permitiria o depoimento de Prejean.

    AFP
    Dzhokhar Tsarnaev, em foto sem data divulgada pelo FBI
    Dzhokhar Tsarnaev, em foto sem data divulgada pelo FBI

    Quando os advogados de defesa indicaram na semana passada que desejavam convocá-la, a promotoria anunciou que tentaria impedir. Os motivos para isso não foram divulgados.

    Especialistas em questões judiciais dizem que a acusação provavelmente estava preocupada com a possibilidade de que alguém com a autoridade moral de Prejean influenciasse qualquer jurado incerto quando à pena de morte; a objeção de um único jurado basta para bloquear uma sentença de morte.

    Os especialistas disseram também que O'Toole tinha de ponderar a possibilidade de que proibir o testemunho da freira pudesse servir de base a um recurso da defesa.

    O juiz abruptamente dispensou os jurados, na quinta-feira, para refletir sobre a decisão. Os advogados continuaram a argumentar junto a ele em foro fechado, na manhã de segunda, e a decisão só se tornou conhecida quando Prejean foi chamada ao banco das testemunhas.

    Usando roupas comuns, a freira trazia um sorriso largo no rosto. Natural de Nova Orleans, ela fala com claro sotaque sulista e seus modos são amistosos. Quando perguntada se via Tsarnaev no tribunal, ela respondeu em voz forte e clara: "Sim, bem ali", e sorriu na direção dele.

    Perguntada se a defesa estava pagando por seu depoimento, ela respondeu: "Nem um tostão".

    Os promotores fizeram objeções a diversas perguntas, e o depoimento dela foi bastante restringido. Em dado momento, Prejean perguntou ao juiz se podia mencionar discussões que teve com outros prisioneiros. Diante da resposta negativa, ela sorriu e disse: "Imaginei que não. Só quis ter certeza. OK".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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