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    No Dia do Muçulmano, mulheres explicam como é seguir o Islã no Brasil

    ISADORA BRANT
    ENVIADA ESPECIAL A FOZ DO IGUAÇU (PR)

    12/05/2015 11h59

    "A mulher muçulmana carrega no corpo a religião", diz Claudia Asma, 44, sobre a responsabilidade feminina diante do islamismo. Brasileira, ela não nasceu em nenhum país muçulmano e não tem familiares praticantes da religião.

    Claudia, que estudou por seis anos o Alcorão antes de converter, vive em Foz do Iguaçu, cidade que tem a maior comunidade islâmica do Brasil, em proporção à sua população total.

    A cidade paranaense comemora, no dia 12 de maio, o Dia do Muçulmano. Dentro de uma das mesquitas de Foz do Iguaçu, Claudia e cinco amigas se revezam para explicar à Folha o que é ser uma mulher muçulmana e o que significa optar por esse caminho em um país como o Brasil.

    "Se uma mulher islâmica faz algo de errado, não é uma mulher, e sim uma muçulmana que está fazendo algo de errado", define ela.

    Vir de família evangélica, segundo ela, facilitou conviver em um ambiente em que o dia a dia é conduzido a partir de questões espirituais.

    A mesma visão é compartilhada com a amiga Raquel Diniz, 41, que se converteu ao casar com um libanês que morava na casa vizinha de seus pais.

    "A muçulmana não é uma mulher oprimida. (...) Usar o véu não tem nada a ver com o pai ou com o marido, e sim com Deus", afirma Raquel ao falar sobre a "hijab" (lenço curto, que cobre a cabeça e o colo). Elas também podem usar o usar o xador, véu mais longo e na altura do quadril.

    "Não é obrigatório, há muitas mulheres que conhecem a religião mas preferem não usar o véu." Claudia conta que sua filha, por exemplo, optou por não adotar a vestimenta aos nove anos, idade a partir da qual passa ser permitido, e não usa até hoje.

    Editoria de arte/Folhapress

    Para a antropóloga Francirosy Ferreira, que estuda o assunto há 19 anos, existe uma especificidade em ser mulher que vem antes da sua cultura ou religião, e que difere de contexto em contexto.

    Segundo ela, nem sempre as reivindicações das mulheres no Ocidente colaboram para as pautas feministas no Oriente. Apesar de o islamismo não obrigar uma filha a casar com quem o pai escolher, culturalmente isso acontece em países muçulmanos. Tal pauta não aparece em bandeiras ocidentais, exemplifica Francirosy.

    "Nós temos um grande problema que é o etnocentrismo, o que fazemos é sempre melhor do que os outros. Vivemos um momento de intolerância em vários sentidos. (...) Falta uma construção de alteridade, de entender que o outro é diferente."

    PRECONCEITO

    "Tudo o que é diferente é observado. Quando acontece algum ato terrorista [como o 11 de Setembro], nesses casos sim, somos hostilizadas. É desagradável, já aconteceu comigo, mas eu não me incomodei", conta Claudia.

    "Terrorismo e religião são coisas diferentes", repete. A reclamação de Claudia e suas amigas é a mesma: o islamismo é generalizado em práticas que, nem sempre, estão ligadas a ele.

    "A pena de morte não é uma lei islâmica, porém países muçulmanos a praticam. Os Estados Unidos, por exemplo, têm pena de morte, mas ninguém fala nada", compara Hanadi Diniz, 19, filha de Raquel.

    Hanadi destaca, no entanto, o fato de em Foz do Iguaçu as pessoas já estarem acostumadas com os muçulmanos. Para ela, esse é um dos motivos de não sofrerem nenhum preconceito explícito.

    Sobre o noticiário recente acerca do Estado Islâmico (EI), milícia radical que prega agir com base no islã, Hanadi também diz que a população local não associa tais práticas aos muçulmanos locais.

    "Quando ficamos sabendo de algum noticiário sobre o EI, também ficamos chocados, assim como vocês" explica. "São grupos isolados que agem de acordo com suas necessidades, ficamos indignados."

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