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    Servidores do Itamaraty fazem greve em ao menos 70 postos no exterior

    GIULIANA VALLONE
    DE NOVA YORK
    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO

    12/05/2015 18h14

    No primeiro dia de greve dos servidores do Itamaraty, ao menos 70 dos 227 postos do Brasil no exterior registraram paralisações nesta terça-feira (12), segundo o Sinditamaraty –sindicato que representa os funcionários.

    O consulado de Nova York ficou aberto apenas para serviços emergenciais.

    Também houve paralisações na missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, nos consulados em Washington e em outras três cidades americanas (Atlanta, Houston e Chicago), além de embaixadas em cidades como Londres, Madri e Nairóbi (Quênia).

    Entre os serviços que não pararam estão o atendimento consular de emergência, que inclui emissão de passaportes e vistos em casos de risco de saúde ou segurança, e o pagamento de contas mais urgentes dos postos.

    Arquivo pessoal
    Funcionários da embaixada do Brasil em Londres participaram da paralisação nesta terça-feira (12)
    Funcionários da embaixada do Brasil em Londres participaram da paralisação nesta terça-feira (12)

    A principal reivindicação dos servidores é a garantia do pagamento do auxílio-moradia, que, recentemente, chegou a ser atrasado em até três meses. No último mês, o ministério pagou o trimestre atrasado, mas a parcela que venceu no início de maio já está atrasada.

    "Eles acenam com um pouquinho mas a gente continua na mesma insegurança", diz a oficial de chancelaria Tatiana de Garcez, que trabalha na embaixada de Londres e teve que retirar mais de £ 9.500 (cerca de R$ 45 mil) da poupança para cobrir as parcelas em atraso. "Agora, se não pagarem, vou ter que pegar um empréstimo."

    Em Nova York, cerca de 30 servidores se reuniram no hall do prédio do consulado, em Manhattan. Todos usavam broches com os dizeres: "Dê valor ao exterior."

    "O auxílio corresponde a cerca de 120% de nossos salários", afirmou à Folha Helder Nozima, vice-cônsul do Brasil em Nova York.

    "As pessoas estão pegando empréstimos, pedindo ajuda para a família, mas está difícil. Já esgotamos todas as nossas possibilidades", disse Alexey Van Der Brooke, funcionário do consulado.

    Os servidores querem ainda a concessão de passaporte diplomático a assistentes de chancelaria e compensação para os plantões no exterior.

    Consultado, o Itamaraty diz estar em contato com outros órgãos do governo federal para tentar resolver os problemas relacionados a orçamento.

    Nesta quarta (13), representantes do sindicato devem se reunir com o Ministério do Planejamento. À tarde, haverá uma nova assembleia para decidir sobre a continuidade da paralisação.

    ABNEGAÇÃO

    Em carta, na última sexta (8), o secretário-geral das Relações Exteriores, Sérgio Danese, lamentou que, com a greve, o sindicato ignorasse "os esforços envidados pela atual administração para atender às solicitações dos servidores", e destacou que o ministério sempre contou com a "abnegação e a dedicação" de seus funcionários.

    "Lamento que (...) em momento particularmente complexo da vida nacional, em que se exigem da sociedade brasileira e do governo federal, em particular, grandes esforços e sacrifícios, [o sindicato] ameace paralisar um ministério que é a primeira imagem do país no exterior", diz Danese no texto.

    Esta é a primeira greve dos funcionários do Itamaraty –diplomatas, oficiais de chancelaria e assistentes de chancelaria– desde 2012.

    O Itamaraty enfrenta uma séria crise orçamentária. Em janeiro, o ministério informou aos funcionários, por circular, que os recursos para aquele mês só cobririam os salários e obrigações trabalhistas dos contratados locais das embaixadas e apenas parte dos pagamentos pendentes de outros meses. O Brasil também está com suas contribuições atrasadas em diversos organismos internacionais.

    "Estão fazendo o arrocho fiscal em cima das nossas costas", disse Nozima.

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