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    Ministra da Justiça de Israel chama a atenção por posições polêmicas

    DANIELA KRESCH
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TEL AVIV

    18/05/2015 03h00

    Uma morena de olhos acinzentados está dando o que falar em Israel. Não nas revistas de moda: no governo. Política novata, Ayelet Shaked, 39, lidera desde domingo (17) um dos ministérios mais importantes do país, o da Justiça, apesar de estar no Knesset (o Parlamento) há apenas dois anos e não ter formação em direito.

    Oposicionistas denunciam não só sua inexperiência como o lado de "fera" da bela analista de sistemas.

    Shaked é ultranacionalista, contrária à criação de um Estado palestino e crítica do Supremo Tribunal (que considera esquerdista demais). Defende uma lei que classifica oficialmente Israel como "Estado de nacionalidade judaica", tida como discriminatória pela minoria árabe (20% da população).

    Casada e mãe de dois filhos, Shaked também é uma estranha no ninho de seu próprio partido, o religioso "Casa Judaica", apoiado em boa parte por colonos israelenses, que vivem em áreas ocupadas na Cisjordânia. Ela é secular e mora em Tel Aviv.

    Por conta de um post no Facebook, ela anda com escolta policial. Há cerca de um ano, a ministra escreveu que mães de terroristas palestinos (que chamou de "cobras") deveriam "ir para o inferno" com seus filhos. Desde então, recebe ameaças de morte.

    A nomeação também trouxe à tona sentimentos machistas em Israel.

    O ex-ministro da Infraestrutura Yosef Paritzky escreveu no Facebook que "pela primeira vez em Israel há uma ministra da Justiça capaz de estrelar num calendário de oficina mecânica".

    Gali Tibbon/AFP
    A ministra Ayelet Shaked durante sessão no Parlamento de Israel
    A ministra Ayelet Shaked durante sessão no Parlamento de Israel

    RIXA COM NETANYAHU

    Shaked vai administrar comitês responsáveis por novas leis e influenciar na escolha de juízes. Justamente por isso é que o premiê Binyamin Netanyahu tenta diminuir sua autonomia. Não só por ideologia. Ela e o líder da "Casa Judaica", Naftali Bennet, trabalharam por dois anos (2006 a 2008) no comitê de Netanyahu e saíram de lá depois de uma briga pessoal que ecoa até hoje.

    Netanyahu só aceitou a nomeação porque, apesar de ter recebido 25% dos votos nas eleições de 17 de março (30 das 120 cadeiras do Knesset), precisou atrair, a qualquer custo, aliados para formar um governo com 61 cadeiras.

    Críticos definem a nomeação como um desastre que pode enfraquecer o Supremo e inviabilizar as negociações de paz com os palestinos.

    É o caso do professor árabe-israelense As'ad Ghanem, da Universidade de Haifa. "Com a ajuda do governo inteiro, Ayelet Shaked tentará fazer uma mudança abrangente e profunda em questões básicas de direitos civis, como o futuro do processo de paz", afirma Ghanem.

    Ari Soffer, editor do Canal Sete, de tendência direitista, chamou a reação dos críticos de "histérica". Ele lembra que Ayelet Shaked foi eleita para o Knesset democraticamente e tem todos os requisitos para ser ministra.

    "Longe, como dizem os demagogos, de ser um perigo para a democracia, a ministra da Justiça pode ser sua última esperança", escreveu Soffer, que apoia a intenção de Shaked de nomear juízes identificados com a direita para o Supremo.

    Mas há quem acredite que seja necessário dar tempo para que a nova ministra prove a que veio.

    "Ela é uma novata. Espero para ver como ela vai lidar com a nova posição. Até lá, me coloco na cadeira de espectador", afirma o cientista político Menachem Hofnung, da Universidade Hebraica de Jerusalém.

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