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    Hizbullah expande sua influência no Oriente Médio

    DIOGO BERCITO
    EM BEIRUTE

    25/05/2015 02h00

    Enquanto os governos de Iraque e Síria lamentavam na semana passada suas amargas derrotas diante do Estado Islâmico (EI), com a perda das cidades de Ramadi e Palmira, a milícia libanesa Hizbullah comemorava uma de suas vitórias recentes mais estratégicas: a tomada das montanhas de Qalamun.

    Os avanços dessa organização xiita dominaram a imprensa e o debate no país, e rivais questionam a decisão de expandir o envolvimento libanês no conflito civil sírio.

    A conquista das montanhas sírias após embates durante o mês é, também, indício da crescente influência regional do Hizbullah –que surgiu, em 1982, apresentando-se como movimento de resistência à presença israelense em território libanês.

    Mohamed Azakir/Reuters
    Guerrilheiro do Hizbullah carrega sua arma em Khashaat, na região de Qalamun (Síria), retomada pela milícia
    Militante do Hizbullah carrega arma em Khashaat, na região de Qalamun (Síria), dominada pela milícia

    Com o apoio do Exército sírio, o Hizbullah expulsou de Qalamun a facção radical Jabhat al-Nusra, aliada à Al Qaeda, e fincou em 13 de maio sua bandeira em Tallat Mussa, o ponto mais alto da região –que está dentro da Síria, entre Damasco e o norte do Líbano.

    A presença ali será essencial para garantir a superioridade militar em um vasto território, devido à altitude privilegiada. Recentemente, militantes da facção Jabhat al-Nusra vinham lançando ataques contra território libanês a partir de Qalamun.

    Mas a decisão de prolongar seu envolvimento no conflito sírio pode ferir o próprio Hizbullah, com a chance de que os rebeldes expulsos das montanhas se reagrupem na fronteira libanesa e voltem a atacar o país ou revidem contra sua capital.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Na semana passada, diversos opositores, como o ex-premiê Saad Hariri, foram a público criticar os avanços militares do Hizbullah, que é hoje uma das principais forças políticas desse país.

    "O Líbano vai pagar a conta", diz em entrevista à Folha, em Beirute, Fadi Ahmar, professor da Universidade Saint-Esprit de Kaslik.

    Ahmar enxerga dois objetivos na expansão do Hizbullah em Qalamun. O primeiro é estratégico, não só pela posição geográfica das montanhas, mas por estarem próximas à região de Baalbek, uma das bases da milícia.

    Politicamente, o auxílio do Hizbullah ao Exército sírio é visto como um imperativo ali: essa organização, apoiada pelo Irã, é membro do eixo que conecta Teerã, Damasco e Beirute.

    A estrada entre Damasco e Homs, uma das principais cidades sírias, passa pela região de Qalamun. Assim, a vitória do Hizbullah será de grande auxílio ao regime de Assad, principalmente em um mês de seguidas derrotas nas mãos do EI.

    Um dos principais conselheiros do líder supremo iraniano Ali Khamenei, em visita ao Líbano, elogiou na semana passada a "coragem" da "resistência libanesa".

    Segundo relatos, há também influência da organização libanesa no Iêmen, com apoio à milícia xiita houthi.

    TERRENO

    Segundo especialistas, o Hizbullah está envolvido no conflito sírio desde seu início, em 2011. Mas a data-chave para essa participação se tornar pública foi a batalha de Qusayr, em 2013, em que a milícia xiita enviou seus guerreiros à Síria e ajudou o Exército de Assad a retomar essa importante posição.

    O processo foi complicado, porque o Hizbullah formou-se militarmente em um terreno distinto, na fronteira sul. Mas os constantes embates dos últimos meses, além de superioridade de armas, garantiram, por exemplo, a recente vitória em Qalamun.

    "A estratégia é consistente com as ações deles nos últimos anos", diz Rami Khoury, da Universidade Americana de Beirute. "É dramático. Nós não sabemos qual será o resultado, mas é uma questão importante tanto para o Irã quanto para a Síria."

    O avanço do Hizbullah também preocupa o governo israelense, que vê nessa milícia xiita um de seus inimigos mais letais. O último longo embate entre ambos foi em 2006, mas no início desse ano a troca de hostilidades colocou a região em alerta.

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