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    Moda reflete ascensão de mulheres a cargos de poder

    VANESSA FRIEDMAN
    DO "NEW YORK TIMES"

    30/05/2015 02h00

    O grande vencedor da recente eleição no Reino Unido sem dúvida foi David Cameron, ao formar uma maioria parlamentar que pegou os institutos de pesquisa de surpresa. Porém, num segundo lugar bem próximo, veio Nicola Sturgeon, a primeira-ministra da Escócia e líder do Partido Nacional Escocês (NSP, na sigla em inglês).

    Ao comandar a eleição de 56 deputados na Escócia, ela transformou seu partido -que havia liderado a frustrada campanha pela independência escocesa em setembro de 2014- na terceira maior bancada da Câmara dos Comuns, sendo ela mesma uma força a ser reconhecida. "Transformou" não é só modo de dizer.

    Fotomontagem
    Da esquerda para a direita: Angela Merkel, Hillary Clinton, Dilma Rousseff e Nicola Sturgeon
    Da esquerda para a direita: Angela Merkel, Hillary Clinton, Dilma Rousseff e Nicola Sturgeon

    Desde novembro, quando assumiu o comando do NSP, Sturgeon não apenas saiu da sombra do seu mentor, Alex Salmond, como também deixou de lado os anódinos terninhos de antes e passou a envergar um autêntico manto de poder -não um daqueles vermelhos, com bordas de arminho, mas uma saia-lápis dessa cor.

    De quebra, adotou o cabelo louro e curto, à la Angela Merkel.

    Ao ecoar aquele que se tornou o uniforme aceito das líderes mulheres em todos os lugares, a evolução da imagem de Sturgeon sinalizou suas ambições e revelou a forma como as mulheres estão usando as roupas ao administrar sua ascensão ao poder.

    "É um look 'soft power'", disse a  estilista Holly Mitchell, sócia, com Lynsey Blackburn, da butique Totty Rocks, em Edimburgo.

    Ela conheceu Sturgeon quando a primeira-ministra comprou um vestido e uma jaqueta da marca, mais ou menos na época da sua posse. Desde então, Sturgeon já foi fotografada usando vários vestidos da grife, como o modelo Betty (à venda no site por £ 179, ou cerca de R$ 860), o Blitz (também £ 179) e o Bow (£ 159).

    Todos eles compartilham das mesmas características básicas: cores vivas, saias retas até os joelhos, mangas três-quartos e uma completa falta de polêmica.

    O molde para esse estilo de vestir foi determinado por Hillary Rodham Clinton em 2000, quando ela foi eleita senadora e -após as tão (mal) faladas experiências de guarda-roupa em seu período como primeira-dama- optou definitivamente pelo "terninho".

    Mas esse visual só alcançaria notoriedade com a ascensão de Merkel, em 2005, quando a chanceler alemã adotou o que se tornou sua marca registrada: calças de corte reto e jaqueta contrastante de três botões e bolsos diagonais.

    A moda ganhou força quando Dilma Rousseff adotou um estilo semelhante durante a sua primeira campanha à Presidência, em 2010, valendo-se de jaquetas com mangas três-quartos sobre vestidos e calças simples.

    O guarda-roupa de Sturgeon difere um pouco do trio citado, por ter detalhes ligeiramente mais femininos, mas a impressão geral é a mesma. Na prática, é o equivalente feminino do terno masculino, combinado com um uso estratégico das cores.

    Em conjunto, isso cria um quase-uniforme, cuja familiaridade e acessibilidade subconsciente combatem o crescente ruído que cerca as roupas femininas, mas sem deixar de admitir -e inclusive explorando- certo grau de diferenciação entre os gêneros.

    Andy Buchanan/AFP
    A primeira-ministra da Escócia e lider do partido NSP acena para apoiadores em Kilmarnock
    A primeira-ministra da Escócia e lider do partido NSP acena para apoiadores em Kilmarnock

    Afinal, David Cameron não poderia usar um terno laranja, por mais que tivesse vontade. E isso faz com que a discussão deixe o terreno da moda para se centrar em políticas.

    "As pessoas que antes criticavam as roupas da primeira-ministra passaram a apreciá-las", disse Mitchell, da Totty Rocks, comentando a transformação do guarda-roupa de Sturgeon. "E então passaram a ouvir o que ela estava dizendo."

    O consultor político Bennet Ratcliff, dono da agência Thaw Strategies, disse que "os eleitores se reconfortam com a ideia de que alguém está assumindo o manto de liderança com o qual estamos familiarizados".

    "Eles veem isso, mesmo que não se identifiquem exatamente com o que estão vendo. A moda muda a forma como elas pensam a respeito dos candidatos num nível muito pessoal e subconsciente."

    Pode também (e isso não é irrelevante no contexto eleitoral) funcionar para atenuar as arestas de uma retórica mais radical, ao inserir o orador numa linguagem visual centrista. A voz pode estar dizendo uma coisa, mas as roupas estão transmitindo outra.

    Nada disso escapou a Sturgeon, que fala abertamente sobre o papel da moda na política. Em abril, por exemplo, ela disse: "Você precisa pensar no que está vestindo, mas não quer ficar pensando nisso em detrimento do que realmente precisa pensar".

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