• Mundo

    Friday, 03-May-2024 08:23:01 -03

    Netanyahu divide Ministério das Relações Exteriores entre aliados

    DANIELA KRESCH
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
    DE TEL AVIV

    29/05/2015 02h00

    Israel se transformou, na prática, em um país com seis chanceleres.

    Após formar seu novo governo dois meses depois das eleições gerais de março, o premiê Binyamin Netanyahu manteve o cargo de ministro das Relações Exteriores para si e fragmentou em níveis inéditos os poderes da pasta entre cinco outros ministros.

    A divisão tem causado confusão entre diplomatas locais e estrangeiros, que não sabem a quem se dirigir.

    Para alguns, trata-se de uma maneira de distribuir cargos a aliados do partido governista Likud sem dar poder mais amplo a nenhum deles.

    Para outros, é uma estratégia para desorientar a comunidade internacional quanto a questões como a negociação de paz com os palestinos.

    Na terça-feira (26), Netanyahu afirmou, em encontro com a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, que ainda está comprometido com a solução de "dois Estados para dois povos", sugerindo a volta de negociações com os palestinos.

    Dan Balilty - 20.mai.2015/Efe
    A chefe da diplomacia europeia, a italiana Federica Mogherini, em encontro com Binyamin Netanyahu em Jerusalém, no dia 20
    A chefe da diplomacia europeia, a italiana Federica Mogherini, em encontro com Binyamin Netanyahu em Jerusalém, no dia 20

    A afirmação foi depois de a nova vice-ministra do Exterior, a ultranacionalista Tzipi Hotovely, afirmar, citando textos bíblicos, que a região pertence apenas aos judeus.

    "Hotovely representa o contrário de tudo o que a maior parte do mundo, inclusive os EUA, quer ver em Israel", diz o jornalista do jornal "The Jerusalem Post" Herb Keinon, para quem a nomeação envia "sinais desencontrados" à comunidade global.

    Além de Netanyahu e Hotovely, outros quatro ministros lidam com o relacionamento internacional.

    As relações com os EUA ficaram a cargo de Silvan Shalom, novo ministro do Interior, que também cuida de eventuais negociações com os palestinos.

    Outro "chanceler" israelense é o ministro da Infraestrutura, Yuval Steinitz, braço-direito de Netanyahu, encarregado de questões sobre o programa nuclear iraniano.

    A mais recente nomeação foi a do número 2 do Likud, Gilad Erdan, que só aceitou o Ministério da Segurança Pública caso recebesse também o efêmero posto de "Ministro para Assuntos Estratégicos" e responsável pela "Hasbará" ("Explicação"), que cuida das reações de Israel a boicotes internacionais.

    Editoria de arte/Folhapress

    CLIMA RUIM

    "Isso tudo causa sensações ruins internamente. Enfraquece o ministério e pesa no clima de trabalho. Fica difícil realizar um trabalho diplomático real e constante quando um cargo desses vira um jogo político", disse à Folha uma fonte da Chancelaria.

    O próprio Gilad Erdan admitiu que não concorda com essa divisão e confirmou os boatos de que Netanyahu estaria "guardando" o cargo de ministro do Exterior com plenos poderes para o líder da oposição, Yitzhak "Buji" Herzog, do Partido Trabalhista, a quem tenta atrair para sua estreita coalizão.

    Hoje, o premiê conta com o número mínimo de 61 dos 120 parlamentares do Knesset (o Parlamento israelense).

    Uma aliança com Herzog diminuiria o caráter direitista e ultranacionalista do governo, tornando-o mais palatável em termos de diplomacia internacional. Por ora, Herzog não só rejeita a ideia como critica Netanyahu pelo que chamou de "dança das cadeiras" ministeriais.

    "A recusa de Netanyahu em apontar um ministro em tempo integral é um indício de que ele está segurando o cargo para alguém que ele tem esperança de ter no governo", analisa o jornalista Keinon.

    Desde que Netanyahu subiu ao cargo, em 2009, a chancelaria é um problema. Após nomear seu ex-aliado Avigdor Lieberman, do partido ultranacionalista Israel Nossa Casa, o premiê passou a temer que a fama de linha-dura do novo chanceler prejudicasse a imagem do país.

    Decidiu, então, que Lieberman, que rompeu com o governo e renunciou no último dia 4, só atuaria na Europa Oriental, África e Ásia, enquanto o então presidente Shimon Peres, visto como pacifista no Ocidente, se dirigiria às Américas e à Europa.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024