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    Argentinos fazem manifestações contra assassinatos de mulheres

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    29/05/2015 02h00

    Quinze assassinatos de mulheres foram noticiados em menos de três meses em jornais da Argentina, ou um a cada seis dias. Em quase todos os casos, são suspeitos seus parceiros ou namorados.

    No último dia 24, a empresária Patricia Sclavuno afirmou em uma rede social que conseguiu fugir depois que seu marido lhe molhou com gasolina e ameaçou queimá-la. Ele foi detido por tentativa de feminicídio (assassinato por motivo de gênero).

    Há duas semanas, uma adolescente de 14 anos foi assassinada e enterrada nos fundos da casa do namorado. A polícia desconfia que a jovem Chiara Páez foi morta para encobrir uma gravidez.

    Os casos se tornaram tão frequentes que mobilizaram a opinião pública argentina. Artistas, movimentos feministas e entidades de direitos humanos preparam uma manifestação contra a violência de gênero, marcada para 3 de junho com o slogan #niunamenos [nem uma menos].

    Além de uma marcha na capital, são organizados protestos nas províncias de Neuquém, Rio Negro e Chaco.

    Editoria de arte/Folhapress

    Segundo a ONG La Casa Del Encuentro, única entidade que produz estatísticas sobre violência contra mulheres na Argentina, houve 277 feminicídios em 2014 no país. Em 60% deles, os assassinos foram cometidos por
    parceiros ou ex-parceiros. Uma em cada quatro vítimas foi morta em casa. "Uma mulher é morta na Argentina a cada 31 horas", afirma Fabiana Túñez, coordenadora da ONG.

    A falta de estatísticas sobre o tema dificulta comparações. O Brasil só tipificou o feminicídio neste ano, o que impossibilitou a produção de dados específicos até então.

    A partir de dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), o Mapa da Violência contabilizou 4,4 mortes para cada 100 mil mulheres no Brasil em 2010, bem à frente da Argentina (que aparecia com 1,2 mortes em 2008). Não se sabe, porém, se elas foram assassinadas em casos de violência de gênero ou vítimas de homicídios comuns.

    Segundo Túñez, os episódios registrados pela ONG na Argentina atravessam o espectro social, o que risca da lista eventuais razões econômicas para o crime.

    Há pouco mais de um mês, a médica Augustina Salinas, 24, foi perseguida e esfaqueada na rua pelo namorado, de 26 anos, no afluente bairro de Puerto Madero, Buenos Aires.

    "Precisamos mudar a conduta do Estado, que tem que criar políticas para prevenir e assistir as vítimas. Ainda que tenhamos avançado em termos de legislação na Argentina, falta muito".

    A ONG reivindica o registro de dados oficiais da violência de gênero, a inclusão do assunto nos currículos das escolas e a formação de agentes de segurança e de Justiça para facilitar as denúncias de ameaça.

    "Foi uma longa luta para aprovar a lei [que tipifica o feminicídio], mas a questão é que essas mortes poderiam ser evitadas", diz Túñez.

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