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    análise

    Cubano comum é quem mais ganha em reconciliação com EUA

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    30/05/2015 02h00

    Há motivos eminentemente práticos para que o cubano comum festeje, mais que o próprio governo, a retirada de Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo, o novo passo dado para a normalização das relações com os Estados Unidos.

    O teorema funciona assim, segundo pesquisa feita em março e divulgada pelo jornal "The Washington Post":

    1 - 79% dos cubanos se dizem insatisfeitos com o modelo econômico;

    2 - 64% deles afirmam acreditar que a normalização das relações com os EUA levaria a mudanças no modelo (mas, atenção, só na parte econômica; apenas 37% acham que as mudanças também atingiriam o sistema político, ou seja, abalariam a ditadura comunista).

    Está, pois, demonstrado como é elevada a expectativa que tem o cubano sobre o efeito na sua vida de uma decisão que é geopolítica antes de mais nada.

    É claro que, para que se materializem tais expectativas positivas, será preciso que os EUA levantem o bloqueio imposto à ilha, o que não depende do Executivo, mas do Congresso.

    Mas, se políticos prestam de fato atenção à opinião pública, o embargo está com os dias contados: dois terços dos norte-americanos são favoráveis ao fim das restrições.

    Se, com o embargo em vigor, os Estados Unidos já exportam algo como US$ 300 milhões (R$ 948 milhões) em mercadorias para Cuba, dá facilmente para imaginar o potencial de negócios após o levantamento das sanções.

    A insatisfação dos cubanos com o modelo econômico é fácil de explicar a partir do baixo crescimento dos seis anos mais recentes.

    No ano passado, segundo as estatísticas globais compiladas pela CIA, a agência central de inteligência norte-americana, Cuba ficou em 177º lugar entre 222 países no ranking de crescimento.

    Sua riqueza aumentou apenas 1,3% (assim mesmo mais que o magérrimo 0,1% do Brasil).

    O modelo econômico cubano já vem mudando lentamente, mas continua a ser território de domínio do Estado, que responde por 3/4 de toda a atividade econômica.

    De todo modo, aumenta a participação do setor privado e das cooperativas, que passou de 5% do PIB em 1989 para 25,3% em 2012, último ano em que há dados confiáveis.

    Essa mudança se reflete no emprego, como é inexorável: em apenas quatro anos (2009 a 2013), mais que triplicou a força de trabalho que se define como autônoma (passou de 2,8% para 8,6%).

    Como são 70% os cubanos que declaram desejar abrir o próprio negócio, cada passo para normalizar relações com os EUA é também um passo a mais nessa direção.

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