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    Obama sanciona exigência de mandado para espionagem

    GIULIANA VALLONE
    DE NOVA YORK

    02/06/2015 18h08

    Pela primeira vez desde os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o Congresso americano decidiu restringir os poderes de vigilância do governo dos EUA.

    Dois dias após deixar expirar a autorização para que a NSA (Agência de Segurança Nacional) coletasse dados telefônicos de toda a população, o Senado aprovou nesta terça-feira (2) um projeto de lei que vai restringir o acesso das autoridades a esses dados —sem comprometer o combate ao terrorismo, segundo os parlamentares.

    O Freedom Act (Lei da Liberdade, em tradução livre) transfere para as empresas de telefonia a responsabilidade pelos chamados metadados –duração, data e origem das chamadas—, hoje armazenados pela NSA. Para acessá-las, a agência precisará de mandados judiciais.

    Apoiador da mudança, o presidente americano, Barack Obama, sancionou a nova lei assim que ela chegou à Casa Branca, ainda na noite desta terça.

    Shawn Thew/Efe
    O presidente dos EUA, Barack Obama; ele sancionou lei que limita vigilância nesta terça (2)
    O presidente dos EUA, Barack Obama; ele já sancionou lei aprovada pelo Senado que limita vigilância

    "Nos últimos 18 meses, eu venho pedindo reformas que protejam mais a privacidade e as liberdades civis do povo americano, ao mesmo tempo em que assegurem que nossos agentes de segurança nacional mantenham ferramentas importantes para mantê-lo seguro", disse, em comunicado.

    O projeto havia sido aprovado pela Câmara em maio. Nesta terça, os legisladores bloquearam as tentativas do líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell (Kentucky), de aprovar emendas à proposta original que reduzissem as restrições ao governo.

    "Esse é um passo na direção errada", afirmou, após ter seus esforços frustrados pelos colegas. Para McConnell, o projeto "não aumenta a proteção da privacidade dos americanos e, com certeza, prejudica a segurança americana ao retirar mais uma ferramenta de nossos guerreiros no momento errado".

    O governo queria apressar a entrada em vigor da lei, que vai substituir ferramentas de combate ao terrorismo perdidas pelo governo na segunda-feira (1º), após a expiração de parte da Lei Patriótica.

    A principal mudança prevista pelo Freedom Act, porém, não será imediata. As empresas de telefonia e a NSA terão seis meses para se adaptar ao novo modelo para coleta e armazenamento das informações das chamadas. Até lá, o governo continuará com acesso irrestrito aos dados.

    SNOWDEN

    O extenso programa de monitoramento dos dados das chamadas telefônicas foi revelado pelo ex-funcionário da NSA Edward Snowden há dois anos.

    Apesar de inovadora, a restrição aprovada nesta terça não trata de todas as ferramentas de espionagem usadas pelo governo e reveladas por Snowden, como o acesso aos dados de navegação na internet.

    Exilado na Rússia, Snowden afirmou, em participação em vídeo em debate da Anistia Internacional, que a mudança é histórica.

    "Pela primeira vez na história recente, descobrimos que, apesar das alegações do governo, a população tomou a decisão final, e essa é uma mudança radical que devemos valorizar e fazer avançar", disse.

    *

    DIFERENÇAS NAS LEIS

    LEI PATRIÓTICA

    - Coleta de dados
    NSA coleta metadados (duração, origem e data das chamadas telefônicas), mas só os acessa quando há suspeitas de envolvimento com terroristas no exterior

    - 'Lobo solitário'
    Para identificar suspeitos que agem sozinhos, governo pode usar ferramentas de inteligência e grampear linhas e aparelhos para rastrear quem troca de celular sucessivamente

    - Transparência
    NSA não divulga quantas vezes teve acesso aos dados telefônicos nem como os usou

    FREEDOM ACT

    - Coleta de dados
    Em 6 meses, dados serão armazenados por companhias de telefonia; NSA precisará de mandados para acessar as informações relevantes

    - 'Lobo solitário'
    As duas autorizações voltam a valer sob a nova lei

    - Transparência
    Informações sobre acesso aos dados são ampliados

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