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    Presidente da Turquia nega que tenha vaso sanitário de ouro em seu palácio

    DANIEL DOMBEY
    DO "FINANCIAL TIMES"

    05/06/2015 20h30

    Dias antes da votação da Turquia em sua mais importante eleição em uma década, uma improvável questão de campanha emergiu: se o presidente Recep Tayyip Erdogan tem ou não um vaso sanitário de ouro em seu palácio de 1.150 aposentos.

    Os planos de Erdogan de reforçar seus poderes como presidente ocupam posição central na eleição de 7 de junho, a mais disputada desde que o AK, um partido de raízes islâmicas, ascendeu ao poder em 2002. Os adversários de Erdogan ridicularizaram o palácio que ele inaugurou no ano passado, cuja área é quatro vezes maior que a de Versalhes, a fim de retratá-lo como um autoritário com gosto pelo excesso.

    Mas o presidente disse "basta" quando seu principal oponente sugeriu que, em algum lugar nas profundezas do complexo de US$ 600 milhões, existe um vaso sanitário de ouro, e prometeu renunciar caso alguém encontre uma privada como a descrita.

    Na última segunda (1º), o gabinete de Erdogan convidou o Partido Republicano, a principal sigla de oposição, a inspecionar o palácio, depois que seu líder, Kemal Kilicdaroglu, disse aos eleitores que quem comanda o país e "se senta em privadas douradas" havia esquecido o sofrimento do povo.

    Erdogan também desafiou Kilicdaroglu a renunciar à liderança do partido caso não consiga encontrar um vaso sanitário de ouro no palácio.

    O partido de Kilicdaroglu respondeu que o líder oposicionista não tinha intenção de pisar em um palácio construído ilegalmente, e a disputa começou a se espalhar pelas redes sociais, com usuários do Twitter postando fotos de tampas de privada, vasos sanitários de luxo e de Erdogan sentado neles, no complexo presidencial.

    Até o momento, não existe prova de que haja um vaso sanitário do tipo no palácio.

    Mas a Câmara de Arquitetos de Ancara, feroz crítica do palácio –que foi construído num terreno protegido, desafiando uma ordem judicial–, afirmou que alguns dos vasos sanitários do palácio custam entre 5 mil e 10 mil liras turcas (de US$ 1,8 mil a US$ 3,7 mil). Também afirmou que um copo de borda dourada que Emine, a mulher do presidente, foi fotografada segurando, no palácio, custa cerca de mil liras turcas.

    Esses supostos excessos podem ecoar de maneira especialmente forte na campanha, já que a economia, por muito tempo a base do sucesso do partido AK, vem cambaleando nos últimos anos.

    O crescimento do país vinha na casa dos 9% na eleição geral anterior, em 2011, e agora se desacelerou para cerca de 3%. O desemprego está perto de sua mais alta marca em seis anos.

    Wolfango Piccoli, da consultoria Teneo, definiu a controvérsia sobre o vaso sanitário como característica de uma campanha que descreveu como "malévola e personalizada".

    O AK acusou os três principais partidos oposicionistas turcos de trabalhar com grupos terroristas. Estes, por sua vez, descartaram qualquer possibilidade de aderir a um possível governo de coalizão.

    O governo também reprimiu a mídia oposicionista, e Erdogan declarou que um editor de jornal "pagaria um preço alto" por publicar fotos que supostamente mostram embarques de armas turcas para a Síria, excluindo o conglomerado de mídia de qualquer participação em concorrências públicas.

    Piccoli argumentou que a desaceleração econômica e dúvidas sobre as tendências supostamente autocráticas de Erdogan, entre as quais seu plano de mudar o sistema de governo da Turquia de parlamentarista para presidencialista, contribuíram para a perda de apoio do AK.

    O partido obteve 49,8% dos votos em 2011, mas poucas pesquisas o mostram acima dos 45% este ano, e diversas apontam para números significativamente mais baixos.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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