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    Terrorismo prova violência do islã, diz escritora nascida na Somália

    DIOGO BERCITO
    EM BEIRUTE

    13/06/2015 02h00

    Quando Ayaan Hirsi Ali, 45, publicou suas primeiras obras e criticou o islã, apresentando-se como uma "infiel" dessa religião, ela se tornou também uma "infiel" para parte da academia.

    Livros como "Infiel" e "Nômade" causaram, afinal, desgosto a determinados setores com a ideia de que a violência é inerente ao islamismo.

    Desta vez, ao lançar "Herege" –desde março em inglês, e agora em português– a autora, nascida na Somália, apoia-se na crise regional e na ação do EI (Estado Islâmico) para insistir em sua tese.

    Tobias Schwarz/Reuters
    Ex-deputada na Holanda, a somali Ayaan Hirsi Ali lançou "Herege", terceiro livro em que crítica o islã
    Ex-deputada na Holanda, a somali Ayaan Hirsi Ali lançou "Herege", terceiro livro em que crítica o islã

    O horror causado pelo grupo terrorista, é apontado por Ali como prova de que é necessário reformar o islã e retirar da religião o que a torna violenta, tese de seu livro.

    "Era difícil explicar por que a sharia [lei islâmica] é ruim. Hoje, posso mostrar empiricamente. Ela é aplicada no EI. Esse é o resultado", diz ela.

    A rejeição ao terrorismo não deve garantir, porém, que a tese de Ali sobre a reforma do islã seja aceita –com pouca aceitação, ela isola a autora de seus interlocutores.

    Ela já foi boicotada por universidades, acusada de islamofobia. Também foi ameaçada de morte –ameaça cumprida no caso do cineasta holandês Theo Van Gogh, morto em 2004 por um muçulmano após filme com críticas ao islã, com o qual Ali colaborou.

    Em "Herege", Ali se refere a "nós, no Ocidente" quando se posiciona contra o islã. Em um trecho, compara os hábitos de limpeza de holandeses e imigrantes muçulmanos e culpa a religião pelo hábito de deixar o lixo no chão.

    No livro, a autora antecipa críticas e se diz desapontada com os liberais, que defendem os direitos de mulheres e gays, mas não se posicionam contra o islã, que ela enxerga como raiz de perseguições a eles no mundo islâmico.

    IDEOLOGIA

    Para Ali, o maior fator na radicalização de muçulmanos é a ideologia, não as condições socioeconômicas dos radicalizados, opinião muito polêmica entre especialistas.

    "Quase todos os recrutas do EI são pessoas privilegiadas. Sabem onde está a Síria e o Iraque. Sabem que voos tomar. Vêm de países diversos. Homens, mulheres, velhos, jovens. O denominador comum é o islã", afirma Ali.

    "Herege" propõe uma série de pontos a reformar no islã, como a ideia de que o profeta Maomé é infalível. Mas o projeto –que transformaria a religião de 1,6 bilhão de pessoas– é tarefa gigante.

    O islã, ao contrário do catolicismo, não tem um papa, e a religião se desenvolveu em torno de variadas interpretações simultâneas. Ali precisaria encontrar primeiro quem leve adiante a missão.

    "Há uma classe de homens com poder, os ulemá [sábios]. Mas não estão interessados em reforma", diz. "Você precisa combater uma ideia com outra. Dizer que a base da lei tem de ser secular, não o islã."

    A batalha de ideias tem de ser, afirma, como aquela travada entre EUA e União Soviética. "Precisa ser grande, uma confrontação ideológica. Mas a atual administração não está interessada nisso."

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