• Mundo

    Monday, 06-May-2024 16:57:13 -03

    Impunidade propicia crimes de guerra de Israel e palestinos, diz ONU

    DIOGO BERCITO
    EM BEIRUTE

    22/06/2015 10h54 - Atualizado às 18h03

    Em um relatório que aponta a possibilidade de que tanto Israel quanto grupos armados palestinos tenham cometido crimes de guerra, uma comissão de inquérito da ONU pediu na segunda-feira (22) o fim da impunidade.

    Mecanismos de culpabilidade, segundo o texto das Nações Unidas, serão um fator decisivo para que ambas as partes evitem uma nova rodada de hostilidades.

    O documento foi divulgado após meses de investigação, condenando Israel pelos ataques a áreas densamente povoadas e grupos palestinos pelo disparo de foguetes contra Israel durante mais de um mês de guerra em 2014.

    "O fato de que Israel não revisou sua prática de ataques aéreos, mesmo após o horrendo efeito em civis tornar-se evidente, levanta a questão de se isso foi parte de uma ampla política que foi ao menos tacitamente aprovada pelos níveis mais altos do governo", diz uma nota de imprensa da ONU.

    A guerra entre Israel e a facção Hamas causou, segundo a ONU, a morte de 2.251 palestinos, entre eles 1.462 civis. Em Israel, houve 67 soldados e seis civis mortos. O relatório foi redigido por investigadores independentes, chefiados pela americana Mary McGowan Davis.

    Ambos os lados negam ter cometido violações durante o conflito. Israel divulgou, anteriormente, seu próprio relatório sobre a guerra, e tem nos últimos dias realizado uma intensa campanha para desqualificar o trabalho dos investigadores da ONU.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, afirmou que esse documento redigido pelas Nações Unidas é uma "perda de tempo".

    Outra linha de argumentação do governo israelense é repetir que o Conselho de Direitos Humanos da ONU tem um viés contrário e uma obsessão em relação a Israel.

    O inquérito era inicialmente liderado por William Schabas. Ele renunciou à função após protestos do governo israelense, devido a seu trabalho de consultoria para a Organização para a Libertação da Palestina.

    O Hamas, por sua vez, afirma que suas ações durante o conflito foram motivadas pela defesa do território palestino contra agressões israelenses -o que não dá conta da execução de palestinos por essa facção durante o embate, acusados de ter colaborado com Israel.

    Para David Benjamin, que foi conselheiro legal do Exército israelense para a faixa de Gaza, o relatório da ONU não traz nenhuma prova conclusiva de crimes de guerra, apoiando-se em informações de segunda mão.

    "Sempre haverá problemas enquanto o Hamas utilizar construções civis como estruturas militares", diz à Folha. "Acusam Israel de atacar sem motivo, mas essa não é a política do Exército."

    O problema, segundo Benjamin, é que as informações que justificam os ataques são de Inteligência e não podem ser compartilhadas com a comunidade internacional.

    O texto do relatório divulgado na segunda-feira critica também Israel pelo contínuo bloqueio a Gaza. Israel retirou seus colonos desse estreito de terra em 2005, mas ainda mantém o controle desses arredores, além de impor restrições navais.

    A Folha procurou o governo israelense e o Hamas para comentar o informe, sem obter qualquer resposta.

    A facção Fatah, que tem o controle do território da Cisjordânia, afirmou por sua vez à reportagem que "precisa de tempo para avaliar o relatório" e que está "estudando palavra por palavra" dele.

    "Tudo o que podemos dizer é que apoiamos totalmente a aplicação das leis internacionais", disse Husam Zomlot, diretor da comissão de assuntos internacionais.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024