• Mundo

    Thursday, 02-May-2024 19:04:57 -03

    ANÁLISE

    Lula, amigo de Maduro, convida o "golpista" González

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    22/06/2015 14h45

    O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva corre o risco de ser acusado de unir-se ao "eixo Madri-Bogotá", que, segundo Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, conspira contra seu governo.

    É que Lula convidou para uma palestra, realizada na manhã desta segunda-feira, 22, o ex-presidente do governo espanhol, Felipe González, figura saliente desse suposto eixo, sempre segundo o paranoico presidente venezuelano.

    Quando González anunciou que participaria da defesa de Leopoldo López e Antonio Ledezma, dois dos presos políticos do regime bolivariano, Maduro se enfureceu: "González passou a apoiar abertamente o golpe contra a Venezuela, o golpe contra mim".

    O "eixo Madri-Bogotá" se completa com o senador Álvaro Uribe, ex-presidente colombiano, este sim ativo e permanente crítico do regime venezuelano.

    Maduro chegou a chamar González de "lobista", que teria sido expulso do Palácio de Miraflores, a sede presidencial, pelo então presidente Hugo Chávez, por ter supostamente defendido a venda da estatal Cantv, de telecomunicações, à empresa que o ex-premiê espanhol supostamente representaria.

    Os ataques se intensificaram quando González desembarcou em Caracas, há dez dias, para tentar participar da audiência em que López seria ouvido.

    Não conseguiu, vetado pelas autoridades venezuelanas, em episódio parecido com o que ocorreu com a comitiva de senadores brasileiros na semana passada.

    Nada disso impediu que Lula, notório apoiador do chavismo, abrisse seu instituto para que González falasse sobre "os novos desafios da democracia".

    A opinião do ex-presidente do governo espanhol sobre a Venezuela é contundente: o país "está em processo de destruição", declarou após regressar a Madri.

    O Instituto Lula, no convite para a palestra de González, não poupa elogios: primeiro, diz que "contribuiu para a consolidação da democracia espanhola após o fim da ditadura de Francisco Franco, que foi de 1936 a 1975".

    Depois, acrescenta: "Durante seus quatro mandatos, ajudou a Espanha a reduzir a inflação, modernizou a economia e ampliou a integração com o continente europeu. Foi um dos responsáveis pela entrada do país na Comunidade Europeia, embrião da União Europeia. Além disso, garantiu a expansão da democratização espanhola dando independência ao Judiciário e fortalecendo a liberdade de expressão e de imprensa; promoveu a inclusão social ampliando o acesso das camadas mais pobres à saúde e à educação".

    É um retrato exatamente oposto ao do "golpista" traçado por Maduro, o amigo de Lula.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024