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    Jovem príncipe saudita acumula poderes e se aproxima do trono

    DAVID D. KIRKPATRICK
    DO "NEW YORK TIMES"
    EM RIAD, ARÁBIA SAUDITA

    27/06/2015 02h00

    Até mais ou menos quatro meses atrás, o príncipe Mohammed bin Salman, 29, era apenas mais um integrante da família real saudita.

    Ele cresceu ofuscado por três meios-irmãos mais velhos, os quais estavam entre os mais capacitados príncipes do reino -o primeiro astronauta árabe, um cientista político formado em Oxford que também é dono de uma firma de investimentos e um influente vice-ministro do petróleo.

    Mas isso foi antes de o pai dele, o rei Salman bin Abdulaziz, 79, chegar ao trono. Agora o príncipe Mohammed, filho mais velho da terceira (e mais jovem) mulher do rei, é a estrela em ascensão.

    Ele rapidamente acumulou mais poderes do que qualquer príncipe já teve, revirando um sistema tradicional de distribuição de posições entre a família real. Usando a sua influência, assumiu um papel de liderança na recente atitude assertiva da Arábia Saudita em sua região, que incluiu uma intervenção militar no Iêmen.

    Quando o rei Salman nomeou Mohammed como príncipe herdeiro adjunto, ele passou por cima de dezenas de príncipes mais velhos, ficando em segundo lugar na linha de sucessão ao trono. O príncipe também ficou no comando do monopólio estatal do petróleo, da empresa de investimentos públicos, da política econômica e do Ministério da Defesa do país.

    Essas mudanças radicais envolvendo o jovem príncipe ocorrem num momento em que a Arábia Saudita vive envolta numa série de crescentes conflitos em que tenta defender a sua visão da ordem regional e conter seu principal rival, o Irã.

    O reino sustenta financeiramente os governantes do Egito e da Jordânia, além da monarquia sunita do vizinho Bahrein.

    Riad também dá armas a rebeldes sírios que combatem o ditador Bashar al-Assad, apoiado por Teerã, e colabora com a campanha área dos EUA no Iraque, além de realizar sua própria ofensiva militar contra uma facção pró-Irã no Iêmen.

    Além disso, a Arábia Saudita está ampliando seus gastos militares apesar da forte queda no preço do petróleo e do aumento nos gastos públicos, uma conjunção que em apenas seis meses levou as reservas financeiras do reino a sofrerem uma redução de US$ 50 bilhões.

    Alguns diplomatas ocidentais se dizem preocupados com a crescente influência do príncipe, que um deles descreveu como "rude" e "impulsivo".

    Em entrevistas, pelo menos dois outros príncipes da linhagem principal da família real deixaram claro que alguns membros mais velhos do clã também têm restrições ao jovem Mohammed. Ambos questionaram os custos e benefícios da campanha no Iêmen.

    O rei Salman, naturalmente, tem a autoridade final, e alguns diplomatas que se encontraram com Mohammed bin Salman e com o príncipe herdeiro Mohammed bin Nayef disseram que o príncipe mais graduado adotava um comportamento paternal em relação ao primo mais novo. Vários disseram que o príncipe herdeiro parecia empenhado em orientar e treinar Mohammed bin Salman.

    Após encontrar os dois príncipes numa cúpula de países do golfo Pérsico em Camp David, no mês passado, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que o jovem Mohammed lhe pareceu "extremamente bem informado e muito inteligente".

    Desde a mais tenra idade, Mohammed parece planejar um futuro no governo, segundo uma fonte próxima da família real. Ele nunca fumou, bebeu álcool nem ficou na rua até tarde -sempre muito preocupado com sua imagem.

    Mohammed nunca ou raramente concedeu entrevistas, nem mesmo para a dócil imprensa saudita.

    Fontes dizem que ele gosta de esqui aquático e outros esportes náuticos, que pratica no mar Vermelho ou em viagens ao exterior. Ele adora os produtos da Apple e desenvolveu um amor permanente pelo Japão, de acordo com um colaborador próximo.

    Quando o príncipe se casou pela primeira vez, há alguns anos, levou a consorte para uma lua de mel de dois meses no Japão e nas Maldivas.

    Muitos sauditas entrevistados nas ruas de Riad mostraram-se simpáticos a Mohammed pelo fato de ele representar os quase 70% de sauditas com menos de 30 anos. Mas vários se disseram preocupados com a ascensão dele.

    O empresário Abu Fahad, que tomava café em um hotel de luxo, disse: "Ele virou o Senhor Sabe-Tudo. Mas tem só 29 anos -o que ele sabe?"

    Colaboraram Sheikh al-Dosary, Ben Hubbard e Michael D. Shear

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