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    Análise

    Operando como diplomata, Levy faz a América

    MATIAS SPEKTOR
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    27/06/2015 02h00

    Quando Dilma decidiu aceitar o convite de Barack Obama para visitar os Estados Unidos, seu principal objetivo era declarar superada a crise da espionagem.

    De lá para cá, os números da economia e da política pioraram a ponto de forçar um ajuste estratégico: agora, a visita tem o propósito supremo de sinalizar que o governo terá força para reverter a situação, restaurando a reputação do Brasil no mercado global.

    Isso explica o porquê de Joaquim Levy ter se tornado o articulador da agenda de Dilma em Nova York, Washington e San Francisco.

    A escolha faz todo sentido porque, durante o primeiro mandato, o establishment americano foi a principal fonte de críticas à "nova matriz econômica", o programa de governo que expandiu o gasto público de forma insustentável, rachou o ambiente regulatório, "pedalou" contas públicas, impôs regras de conteúdo local irrealistas e deu de ombros para as transformações mundiais na área comercial.

    O papel de Levy como garantidor dessa operação já começou a reverter o clima em Wall Street. Pela primeira vez em meses, agentes do mercado começam a destoar do tom negativo que geralmente acompanha o noticiário sobre o Brasil.

    Entre os otimistas, ouve-se que o Brasil honrou seus compromissos e não deu calote em seus empréstimos e contratos. Reconhece-se a recessão, mas diz-se que o sistema político é sensível ao risco da hiperinflação e não existe nenhum ator relevante que pretenda afastar o país dos cânones de uma economia de mercado.

    Essas vozes otimistas acrescentam que os recursos naturais, o tamanho do mercado e a sede da população por consumo voltarão a fazer do Brasil um excelente lugar para fazer negócios.

    A popularidade da presidente pode estar no fundo do poço, notam, mas o Brasil é uma democracia consolidada em uma vizinhança essencialmente pacífica. Quando houver retomada, concluem, seu impulso será forte.

    O desfecho dessa história ainda levará tempo.

    Muita gente perspicaz em Wall Street acha que, mesmo cheios de boas intenções, a presidente e seu ministro terão dificuldade para tirar o país do buraco em que se encontra.

    Se não bastasse o ambiente econômico adverso, dizem, tem uma cena política dantesca. E tem boa dose de fogo amigo na própria Esplanada dos Ministérios. Como brincam na Fazenda, "neste governo todos avançamos na mesma direção, só que uns o fazem em sentido contrário".

    Levy responde a isso com todos os instrumentos de que dispõe, inclusive com sua autoridade para fazer política externa.

    Foi essa a lógica por trás da surpreendente iniciativa comercial que lançou no México. Foi essa a lógica por trás do acordo-marco que patrocinou com a OCDE, o clube de democracias de mercado.

    Será essa a lógica por trás dos gestos dele e de Dilma nos quatro dias que passarão colados um ao outro nos Estados Unidos.

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