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    Opinião

    Arco-íris nas fotos das redes sociais fez muita gente se sentir mais forte

    ALEXANDRE VIDAL PORTO
    COLUNISTA DA FOLHA

    29/06/2015 02h00

    No fim de semana, muitos de meus amigos no Facebook marcaram suas fotos de perfil com as cores do arco-íris.

    A ideia ""parecia– era celebrar a decisão da Suprema Corte dos EUA que legalizou o casamento homossexual nos 50 Estados. Foi a manifestação mais maciça que presenciei no Facebook desde 2007.

    Teve gente que não aderiu porque achou que a celebração era sintoma de nosso complexo de vira-latas e indicava subserviência ao imperialismo cultural americano –afinal, quando o Supremo do Brasil aprovou o casamento gay em 2011, ninguém celebrou; por que celebrar o casamento gay dos gringos?

    Acho essa visão estreita. Como homossexual casado civilmente, encontro muitos que, até hoje, desconhecem que casamentos entre pessoas do mesmo sexo são realidade jurídica consolidada no Brasil. Pensam, em geral, que existe só união estável.

    Talvez o discurso de ódio e a violência a que são submetidos os LGBTs brasileiros dificultem conceber que um grupo hostilizado tão abertamente possa ter direitos importantes como o casamento.

    Por outro lado, parte do ativismo LGBT segue insistindo na aprovação do casamento civil pelo Congresso, como se isso fizesse alguma diferença jurídica. O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, acredita que o direito das minorias não deve ser julgado pelo processo legislativo majoritário, mas por um Judiciário corajoso. Concordo com ele.

    Em 2011, o apoio ao casamento homossexual era mais tímido. A conquista dos direitos homossexuais se deu na velocidade do mundo interconectado. Quatro anos de evolução conceitual nesse universo representa muito.

    Hoje, em todo o mundo, é mais claro o entendimento da homossexualidade como fenômeno legítimo da natureza humana e da importância de direitos iguais para os casais homossexuais.

    Elogiar a decisão da Suprema Corte não tem nada de subserviência. Goste-se ou não, os EUA são a potência dominante no planeta. É um dado da realidade objetiva.

    A decisão americana tem enorme potencial simbólico e ajudará globalmente a causa da justiça, por contaminação e exemplo. Merece celebração. Sintoma de complexo de vira-latas de verdade é antiamericanismo sem causa.

    A ideia era mostrar de que lado estamos nessa luta civilizacional. Encontrar primeiras professoras, tias-avós e velhos colegas de colégio nas cores do arco-íris, em sinal de aceitação e solidariedade, fez muita gente se sentir menos sozinha e mais forte.

    Nos regimes democráticos do Ocidente, a conquista dos direitos homossexuais não tem mais volta. A maneira como os governos tratam seus homossexuais tornou-se um teste de qualidade das democracias contemporâneas.

    Homofobia, cada vez mais, cheira a barbárie. Nós gostamos de civilização.

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