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    Governo tunisiano fecha cerco a mesquitas irregulares

    DIOGO BERCITO
    ENVIADO ESPECIAL A KAIROUAN (TUNÍSIA)

    29/06/2015 08h00

    Para Tayeb al-Ghozi, imã da Grande Mesquita de Kairouan, se Saif Rezgui tivesse frequentado seus sermões, não teria disparado contra turistas no balneário de Sousse. Mas o rapaz, diz o líder religioso, nunca passou por aqueles antigos portões.

    "Esses radicais não vêm às mesquitas", afirma o imã à reportagem da Folha.

    Preocupado, porém, com a radicalização de jovens em mesquitas na Tunísia, o governo anunciou na sequência do atentado de sexta-feira (26) que irá fechar 80 delas por considerá-las em situação irregular.

    Segundo Ghozi, nenhuma das mesquitas de Kairouan será interditada pela medida.

    Por outro lado, moradores apontavam que a mesquita ao lado da casa de Rezgui, aparentemente fechada durante todo o domingo, funcionava sem ter um imã fixo, designado pelo governo.

    A questão é delicada. O país vive, desde a revolução que tirou o ditador Zine El Abidine Ben Ali do poder, em 2011 –marco inicial da Primavera Árabe–, constante conflito para acomodar a parcela da população que segue interpretações rígidas do islã.

    Críticos de movimentos radicais afirmam que a liberdade de culto e a falta de monitoramento pelo Estado, após 2011, contribuíram para o crescimento da influência de setores conservadores.

    CONTROLE

    Para Ghozi, a solução é, mais do que fechar mesquitas, controlar os seus sermões. Assim, ele defende a designação pelo governo de quem serão os líderes religiosos dessas congregações. Foi dessa maneira, diz, que boa parte das mesquitas foi regularizada, nos últimos meses.

    Entre suas preocupações está a organização Ansar al-Sharia, formada após a revolução de 2011. O grupo liderou diversas manifestações no país, incluindo os protestos violentos contra a exibição do filme "Persépolis".

    O governo classificou o Ansar al-Sharia como terrorista em 2013, depois do assassinato de líderes seculares, que foi atribuído a seguidores dessa organização.

    Antes disso, no entanto, o grupo teve liberdade suficiente para realizar um encontro na cidade de Kairouan, em 2012, e tinha planos de fazê-lo outra vez em 2013 antes de ser impedido.

    Até que o governo passasse a ter um controle mais rígido das mesquitas no país, afirma Ghozi, Rezgui teve tempo de radicalizar-se em sermões de grupos extremistas. Ele provavelmente teve também contato com essas ideologias por meio da internet, como outros jovens terroristas.

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