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    E-mails mostram que EUA ouviram Brasil sobre retorno de Cuba à OEA

    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO

    02/07/2015 02h00

    E-mails trocados entre a então secretária de Estado americana Hillary Clinton (2009-2013) e seus assessores tornados públicos nesta semana revelam que os EUA insistiram, em 2009, para que o Brasil participasse na busca de uma solução para revogar a suspensão de Cuba da OEA (Organização dos Estados Americanos).

    Segundo uma mensagem enviada por Huma Abedin, então vice-chefe de gabinete de Hillary, à secretária americana em 30 de maio daquele ano, o secretário de Estado assistente para a América Latina, Thomas Shannon, estava tentando convencer o governo brasileiro a não deixar o tema nas mãos do então secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza.

    "Tom [Shannon] disse ao embaixador brasileiro [em Washington, Antonio Patriota] que o Insulza tem um grande problema de credibilidade com o nosso Congresso, e que nós [EUA], Brasil, México e outros não podemos deixar de nos envolver no assunto", afirmou Abedin no e-mail.

    Sergio Lima/Folhapress
    Dilma Rousseff recebe no Palácio do Planalto, em 2011, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza
    Dilma Rousseff recebe no Palácio do Planalto, em 2011, o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza

    Segundo a assessora, o então chanceler brasileiro Celso Amorim reconhecia o problema que era a suspensão de Cuba, mas que o ministro estava com seus esforços voltados para envolver Insulza na solução.

    Horas antes, Jake Sullivan, outro assessor próximo de Hillary, orientou por e-mail (e sem citar nomes) a secretária de Estado em como conversar com Amorim e com a chanceler mexicana à época, Patricia Espinosa.

    "À medida que as conversas com esses dois ministros se desdobram, você deve destacar que já percorremos um longo caminho em relação a Cuba –e que seria muito ruim atravancar ou constranger o presidente Obama depois de todos os passos que ele tomou", disse Sullivan a Hillary.

    Quatro dias depois, durante assembleia em San Pedro Sula, em Honduras, os chanceleres da OEA aprovariam a derrubada da suspensão.

    O Brasil teria ajudado a convencer países da Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), liderados por Caracas, que exigiam pedido de desculpas a Cuba para a apoiar a proposta americana.

    Em abril passado, o governo cubano participou pela primeira vez de uma cúpula da OEA em 50 anos, mas não há indicações se e quando retornará à organização.

    HONDURAS

    Em mensagem de 29 de novembro de 2009 a outros assessores de Hillary, Shannon –que já tinha sido indicado por Obama para a embaixada no Brasil– comemorou a participação dos hondurenhos (53%) nas eleições após a deposição de Manuel Zelaya.

    "A participação e a clara rejeição do Partido Liberal [de Zelaya] mostram que nossa abordagem foi a correta, e coloca o Brasil e outros que não reconhecem as eleições numa posição impossível", disse Shannon no e-mail.

    A crise política em Honduras representou um dos mais importantes obstáculos na relação recente de EUA e Brasil –que só reconheceu o governo de Porfírio Lobo, eleito naquele pleito, em 2011.

    O Brasil também aparece numa troca de e-mails de maio de 2009, na qual é apontado por uma assessora próxima a Hillary como uma parceria prioritária a ser "cultivada", junto com Índia e Turquia.

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