A mídia dos EUA não recebeu o memorando do presidente Obama de que o Brasil já é uma "potência global". O destaque dado à visita de Dilma Rousseff foi modesto.
Por outro lado, se Dilma queria mesmo promover seu pacote de concessões de infraestrutura e reagir ao noticiário negativo sobre o país nos últimos anos, tampouco fez um grande esforço de relações públicas.
Dilma recebeu em audiência vários ex-secretários de Estado americanos, de Henry Kissinger e Condoleezza Rice a Madeleine Albright, mas não deu uma entrevista exclusiva em solo americano.
Na entrevista que concedeu na Casa Branca ao lado de Obama, a cerca de 50 jornalistas, Dilma, desacostumada a coletivas, fez uma introdução de sua visita por 16 minutos. Canais de notícias americanos cortaram a transmissão no início.
Beck Diefenbach /Reuters | ||
A presidente Dilma Rousseff durante coletiva na sede do Google, em Mountain View, na Califórnia (EUA) |
Obama, que dá coletivas quase semanalmente, fez uma introdução de menos de sete minutos, com direito a brincadeiras com o moletom do Brasil que ganhou de presente de Dilma, "que não posso usar na rua, mas talvez em casa à noite".
Quase todas as perguntas da mídia americana versavam sobre Grécia, Irã, Estado Islâmico e a chamada "melhor semana" de Obama, devido às importantes vitórias políticas domésticas obtidas pelo presidente.
A única pergunta feita por um americano sobre um assunto doméstico no Brasil foi se a Olimpíada do Rio em 2016 estaria preparada contra um ataque terrorista do Estado Islâmico.
Ao contrário de Lula e Fernando Henrique Cardoso, que davam entrevistas no exterior, Dilma cancelou de última hora sua participação em programa da CNN. Encontrou-se com o magnata Rupert Murdoch, mas sem garantir espaço nos seus "The Wall Street Journal" e Fox News.
Antes de viajar, aceitou conversar com a socialite (e jornalista ocasional) Lally Weymouth, que já foi herdeira do "Washington Post", e que "gera mais notícia nas festas que dá nos Hamptons do que nas entrevistas com presidentes de países distantes que faz", segundo perfil publicado pela revista "Washingtonian" em 2014.
A entrevista de Dilma, postada no horário ingrato da quinta à noite no site do "Washington Post", teve repercussão minúscula.
O próprio jornal publicou editorial duro no sábado (27), chamando o governo Dilma de "um retrocesso no Brasil, com políticas desorientadas" e que a "bolha [de otimismo] já estourou".