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    Bandeiras comuns aproximam movimento negro no Brasil e nos EUA

    FERNANDA PERRIN
    DE SÃO PAULO

    04/07/2015 02h00

    Um dos compromissos da presidente Dilma Rousseff, em viagem aos Estados Unidos, foi uma visita ao memorial de Martin Luther King, líder negro morto em 1968.

    A segregação contra a qual ele lutava impulsionou a organização dos negros nos EUA, obrigados a fundar suas próprias igrejas e universidades, diz Edward Telles, sociólogo e professor da Universidade Princeton.

    Ela também fortaleceu um sentimento de nação negra, algo que não existia no Brasil segundo o sociólogo Antonio Sérgio Guimarães, da USP.

    "Na grande perversidade da ideia de democracia racial, houve uma diluição da identidade negra em uma identidade nacional brasileira. Esse processo de construção de uma identidade negra mais forte acontece agora", diz Joselício Junior, militante do movimento Círculo Palmarino.

    Para Telles, há um reconhecimento crescente da questão racial no Brasil, antes secundarizada na luta trabalhista. Nos EUA, por sua vez, a segregação diminui, com maior interação entre negros e brancos, comum aqui.

    Outra novidade nos EUA é a categoria "people of color" (pessoas de cor). "O termo serve para unificar os não-brancos", explica Brianna Gordon, do Black Lives Matter (vidas negras importam).

    A estratégia aproxima os EUA da experiência brasileira, em que as fronteiras raciais são mais fluidas, em razão das miscigenação.

    A denúncia à violência policial contra negros é bandeira compartilhada e prioritária dos movimentos. No Brasil, 61% dos mortos pela Polícia Militar paulista entre 2009 e 2011 eram pretos e pardos, segundo estudo da Universidade de São Carlos. Nos EUA, negros mortos pela polícia levaram multidões a protestarem nas ruas das cidades de Ferguson e Baltimore nos últimos meses.

    Muitas diferenças, contudo, persistem. A dimensão da reação popular vista nessas cidades não tem paralelo na história recente do Brasil.

    Para Douglas Belchior, militante da Uneafro, existe um sentimento de cidadania entre os americanos que não acontece no país. A naturalização da violência contra a população negra neutraliza a revolta quando casos semelhantes acontecem aqui, diz.

    Mara Loveman, socióloga da Universidade de Berkeley (Califórnia), discorda que os movimentos nos EUA sejam mais organizados que no Brasil. A mobilização existe desde o Império, com o movimento abolicionista, afirma.

    "A semelhança mais importante entre as duas sociedades é que, historicamente, pessoas brancas sempre estiveram no topo da hierarquia social, política e econômica", diz.

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