• Mundo

    Sunday, 05-May-2024 20:41:43 -03

    'Quando cheguei, me senti burro', diz cientista brasileiro em Columbia

    CAMILA VIEGAS-LEE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE NOVA YORK

    04/07/2015 02h00

    Quem faz a ponte entre a ciência do Brasil e dos EUA é gente como o brasiliense Eduardo Guerra Amorim, 31, que estuda genômica em tempo integral na Universidade Columbia, de Nova York.

    Em um encontro de bolsistas brasileiros realizado lá, mexeu com ele o discurso de Denise Neddermeyer, diretora da Capes, um dos órgãos que coordenam o programa Ciência sem Fronteiras.

    "Ela disse que éramos responsáveis pela imagem do cientista brasileiro e que nossas ações teriam consequências importantes", lembra. "É assim que me sinto."

    Luciana Golcman/Folhapress
    Eduardo Amorim Guerra, na Universidade de Columbia em Nova York
    Eduardo Amorim Guerra, na Universidade de Columbia em Nova York

    Amorim faz pós-doutorado em biologia computacional. Até o segundo ano, a Capes paga 75% de seu salário e a Columbia, 25%. O terceiro ano será 100% financiado pela universidade.

    Ele se formou em biologia em 2006 e concluiu mestrado em 2008, na Universidade de Brasília. De 2009 a 2013, fez doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Estudou na Suíça, na Inglaterra e na Alemanha.

    Amorim conta que nunca teve dificuldade de adaptação em país nenhum. Mas, em Columbia, passou maus bocados. "Quando cheguei, me sentia a pessoa mais burra do mundo. O ambiente é desafiador, entre pessoas muito inteligentes que trabalham muito duro."

    Esse é o primeiro ponto de comparação entre seu trabalho acadêmico na terra natal e nos EUA. No Brasil, nunca precisou estudar para prova e não era necessário se esforçar para se destacar, relata.

    "Aqui, trabalho mais. Se tiro um dia de descanso, outros estudantes passam à frente. Não dá para bobear."

    Outra diferença é o diálogo. "No Brasil, estudante não faz pergunta, nem em aula nem em conferência. Aqui, até desafiam o palestrante."

    O pesquisador afirma que a hierarquia acadêmica é rígida demais no Brasil e que professores deveriam dar mais espaço aos alunos. Esses, por outro lado, deveriam aprender a se expressar.

    O verso da moeda ou o que os americanos poderiam aprender com os brasileiros não é novidade. Amorim diz que sua capacidade de socializar e deixar o ambiente mais leve já foi elogiada.

    "Na Columbia, relações sociais são profissionais. Amizades não são estimuladas."

    No encontro do Ciência sem Fronteiras, em setembro, Neddermeyer confirmou que recebe relatórios das universidades dizendo que os brasileiros são "os que mais se integram com os estudantes locais". Mas ela pede a seus bolsistas que respeitem a cultura local para abrir portas a novos jovens brasileiros, que evitem esportes radicais e que levem um colega americano ao Brasil. "Precisamos que eles nos visitem e vejam nossas instituições também."

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024