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    Empobrecido, berço kirchnerista vê abandono do governo de Cristina

    MARIANA CARNEIRO
    ENVIADA ESPECIAL A RÍO GALLEGOS (ARGENTINA)

    05/07/2015 02h00

    O segurança Marcos pergunta com ar enfadado quando a repórter lhe pede para ver de perto a estátua do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007): "Tem certeza de que você quer entrar?", diz. "Eu não gosto dele, mas tem gosto para tudo".

    Em Río Gallegos, berço do kirchnerismo no sul da Argentina, a estátua do político mais proeminente da província de Santa Cruz fica em uma pequena praça fechada com corrente e cadeado, ao lado de um centro comunitário bancado pelo governo.

    Mariana Carneiro/Folhapress
    Pichação em propaganda peronista que exalta a figura do ex-presidente Néstor Kirchner
    Pichação em propaganda peronista que exalta a figura do ex-presidente Néstor Kirchner

    Convulsionada por uma crise política, que a população atribui à má gestão de aliados da presidente Cristina Kirchner, a capital de Santa Cruz coloca à prova a força do kirchnerismo em sua própria terra natal.

    Isso não seria uma questão nacional, não fosse a decisão de Máximo Kirchner, 38, herdeiro do casal que governou o país nos últimos 12 anos, decidir dar ali os primeiros passos na política. Ele concorrerá a uma vaga de deputado federal por Santa Cruz.

    Máximo é o sucessor natural de Cristina, 62, presidente que deixa o cargo em dezembro com elevada aprovação popular.

    Há três meses, o funcionalismo municipal de Río Gallegos está em greve. Lixo pelas ruas, manifestações sindicais quase diárias e reclamações dos moradores foram o quadro que a Folha encontrou nos dias que antecederam a decisão de Máximo em se candidatar nestas eleições.

    Há quase 30 anos, Néstor Kirchner debutava na política como prefeito da cidade. O mesmo caminho seria inviável hoje para Máximo, dizem moradores e políticos locais. "Máximo tem um sobrenome poderoso, mas as pessoas daqui sabem que, fora isso, é uma pessoa normal. Não é como Néstor", diz a taxista Verónica Chain, que se declara "kirchnerista não-praticante".

    DESCONHECIDO

    O herdeiro de Cristina é pouco conhecido na cidade. Não faz aparições públicas nem políticas, tampouco se sabe de suas atividades sociais. Circula em uma caminhonete de casa para a imobiliária onde trabalha, no centro da cidade, acompanhado de dois carros de guarda-costas.

    "As pessoas sabem que o kirchnerismo não mudou nada em suas vidas. Como berço do kirchnerismo, Gallegos deveria ser um paraíso, mas está um caos", afirma Pablo Fadul, candidato à prefeitura pela opositora União Cívica Radical.

    Carlos Brigo/AFP
    Máximo Kirchner, filho da presidente argentina, tenta carreira política em Santa Cruz
    Máximo Kirchner, filho da presidente argentina, tenta carreira política em Santa Cruz

    Máximo escolheu, então, um atalho para a vida pública. Ele é o primeiro nome na lista fechada de deputados peronistas por Santa Cruz –assim, sua eleição é dada como certa na província.

    ABANDONO

    Em 2011, o atual prefeito de Río Gallegos, Raúl Cantín, foi eleito pela Frente para Vitória (agremiação da presidente) com a promessa de que o alinhamento com o governador, do mesmo partido, e com a presidente traria prosperidade a Santa Cruz.

    Os moradores sonhavam com um projeto energético que aproveitaria o carvão extraído na cidade vizinha de Río Turbio para gerar energia e atrair investimentos. O projeto não deslanchou.

    "É lamentável. Somos da cidade da família da presidente e estamos abandonados", queixa-se o sindicalista Ariel Díaz, que trabalha na coleta de lixo de Río Gallegos.

    As ruas do centro da cidade estão esburacadas. A escola onde estudou Máximo Kirchner cancelou as aulas após um caso de hepatite e de uma infestação de ratos –que, segundo moradores, vieram com o lixo que se avolumou no terreno ao lado.

    Com a saída de Cristina, Río Gallegos teme que o destino prometido caia no esquecimento. "A situação vai se complicar. Não teremos mais o tapete vermelho para a Casa Rosada", diz o sindicalista Pedro Mansilla.

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