• Mundo

    Monday, 29-Apr-2024 10:19:41 -03

    Em missa, papa diz que Guerra do Paraguai foi injusta

    MARIANA CARNEIRO
    DE PUERTO IGUAZU (ARGENTINA)

    11/07/2015 13h55

    Em sua primeira missa no Paraguai, o papa Francisco tocou em um ponto doloroso da história local: a guerra que derrotou o país por uma aliança formada por Brasil, Argentina e Uruguai no século 19.

    Francisco classificou o conflito de "injusto", o que tem um significado especial pelo fato de o papa ser argentino.

    A Guerra do Paraguai (1864-1870) dizimou mais da metade da população do país e a maior parte do contingente masculino. Em 1871, a população paraguaia era de 221 mil pessoas, das quais apenas 28 mil eram homens. Antes da guerra, a população paraguaia chegava a 525 mil. O país é hoje um dos mais pobres da América do Sul, com uma riqueza por habitante inferior à metade da dos brasileiros.

    "Com grande valor e abnegação, [as mulheres paraguaias] souberam levantar um país derrotado, afundado, submergido por um guerra injusta", afirmou o papa no santuário da Virgem de Caacupé —localizado na cidade de Caacupé, a cerca de 50 km da capital Assunção—, padroeira do Paraguai.

    "Vocês têm a memória e a genética dos que reconstruíram a vida, a fé e a dignidade do seu povo", disse Francisco.

    O papa também pediu proteção aos paraguaios que vivem no exterior —cerca de 10% da população do país, a maior parte radicada na Argentina.

    GUARANI

    Francisco aproveitou a missa para fazer uma referência simbólica à raiz indígena do povo paraguaio ao usar a língua guarani ao rezar o Pai Nosso.

    A ordem jesuíta à qual o papa pertence tem uma longa história de proteção do povo guarani da escravidão durante os anos da colonização do país e ajudaram a preservar o idioma. Foi um padre jesuíta, Antonio Ruiz de Montoya, quem publicou a primeira gramática guarani, em 1639.

    A língua guarani é um dos idiomas oficiais do Paraguai e é falada por povos indígenas de outros sete países, incluindo o Brasil, a Argentina e a Bolívia. No Paraguai, segundo dados do governo, há 30 mil guaranis.

    No final da missa, oficiais do Vaticano leram um decreto que declara o santuário da Virgem de Caacupé, o principal local de peregrinação paraguaio, como uma pequena basílica. Para atingir este status, o local precisa ser reconhecido como uma diocese, um local ativo de liturgia pastoral que sirva de modelo para os demais, além de importância histórica. Com o novo título, o santuário pode usar o símbolo papal, duas chaves cruzadas, em seus móveis e cartazes, um símbolo de sua conexão com o Vaticano.

    O papa tem uma antiga admiração pela Madonna de Caacupé, oriunda dos dias em que ministrava para imigrantes paraguaios na periferia de Buenos Aires.

    AGENDA CORRIDA

    Pouco antes de celebrar a missa, o papa Francisco se ausentou do santuário por alguns minutos, adiando o começo da procissão e levando a especulações sobre sua saúde.

    O porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, garantiu que o papa "está bem" e que Francisco se ausentou "um momento" por estar "emocionado", pedindo então que fosse retomada da canção inicial da missa.

    Poucos minutos depois, Francisco apareceu tranquilo com os paramentos litúrgicos e continuou a procissão. Perante as perguntas dos jornalistas sobre o atraso do papa, Lombardi disse: "Está bem, como vocês viram".

    Por sua parte, Carlos Morínigo, o medico paraguaio que atende o papa no Paraguai assinalou em comunicado do Ministério da Saúde Pública que "evidentemente, pela fadiga das viagens, está cansado, mas goza de boa saúde e se encontra animado e feliz pelo carinho das pessoas".

    Morínigo acrescentou que Francisco, que hoje completa seu segundo dia de estadia no Paraguai, conta com uma vitalidade impressionante para cumprir com a intensa agenda prevista.

    O médico fez essas declarações depois que o papa finalizou a missa que celebrou em Caacupé, acompanhado de milhares de pessoas.

    Desde que o pontífice chegou ao Paraguai nesta sexta-feira (10), procedente da Bolívia, sua agenda esteve repleta de atos, aos quais se deslocou em sua maioria no papamóvel.

    Com agências de notícias

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024