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    Conflito leva a 'diáspora' de ucranianos para a Polônia

    JOANA CUNHA
    EM VARSÓVIA

    12/07/2015 02h00

    Com o tom cerimonioso de quem empunha pequenos troféus, a ucraniana Inna Logvinova, 36, mostra à Folha um capacete e duas garrafas para a confecção de coquetel molotov.

    São relíquias do Maidan, a praça da Independência, no centro de Kiev, onde há pouco mais de um ano os protestos desencadearam o afastamento do presidente pró-Moscou Viktor Yanukovich.

    Professora de inglês, Logvinova deixou seu país há três meses acompanhada da irmã, que temia que sua vontade de lutar pela Ucrânia contra os separatistas pró-russos pusesse suas vidas em risco.

    Joana Cunha/Folhapress
    A ucraniana Inna Logvinova, 36, que se mudou para a Polonia para fugir da guerra em seu país
    A ucraniana Inna Logvinova, 36, que se mudou para a Polonia para fugir da guerra em seu país

    Enquanto ela conta sua história, ouvem-se no andar de baixo as notas de um concerto de Chopin, ícone cultural na Polônia, onde Logvinova vive agora.

    Hoje ela procura trabalho e toma aulas de polonês no Ukrainian World, instituição criada no ano passado em Varsóvia para dar apoio a refugiados ucranianos, ajudando-os a encontrar emprego, abrigo, apoio jurídico e psicológico e a adaptar-se à cultura local, com cursos e concertos diários.

    Desde a eclosão do conflito, no ano passado, iniciou-se uma brusca diáspora de ucranianos, elevando de 1.000, em 2013, para quase 14 mil, em 2014, o número dos ucranianos que pediram asilo na União Europeia, segundo dados do European Asylum Support Office.

    De janeiro a maio deste ano, a estimativa é que o volume esteja perto de 9.000.

    A Polônia, que é uma das sociedades mais homogêneas da Europa, com apenas 0,2% de estrangeiros na população, tem sido receptiva, segundo Marta Jaroszewicz, especialista em imigração do OSW, um centro de estudos que faz análises sobre o Leste Europeu.

    Em 2014, o país emitiu aproximadamente 330 mil vistos de trabalho temporário para ucranianos, um aumento de mais de 50% em relação ao ano anterior.

    Jaroszewicz estima que existam atualmente quase 400 mil ucranianos na Polônia.

    "O número cresce agora no verão, porque muitos deles conseguem trabalho em fazendas e no setor da construção", afirma.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Com leis de imigração relativamente lenientes, se comparadas a outros países da região, e pouca experiência com grandes fluxos de estrangeiros, além de laços culturais e étnicos com os vizinhos, a Polônia transformou-se num destino óbvio.

    Muitos dos estrangeiros que chegam são trabalhadores escapando não apenas da guerra, mas também de uma economia devastada, segundo Tomasz Czuwara, membro do conselho do Open Dialog Foundation, ONG que comanda o Ukrainian World.

    É o caso de Switlana, que pediu para não ter o sobrenome divulgado. A jovem dona de casa deixou sua terra natal e seu filho adolescente há um mês para procurar trabalho em Varsóvia.

    "Usei minhas economias para vir buscar melhores condições para sustentar meu filho, que ficou com minha família. Estou procurando emprego como faxineira", conta ela.

    Os que têm sorte de obter vistos de trabalho temporários, permanentes ou asilo buscam vagas de faxineiros, motoristas ou pedreiros. Muitos deles, com educação superior, acabam relegados ao mercado informal ou aceitam postos de menor qualificação, segundo Czuwara.

    "Entrar no mercado negro é um risco para eles. Há casos de trabalhadores que não recebem e não têm como se defender", afirma.

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