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    Amorim vê 'grão de areia' brasileiro em acordo nuclear com o Irã

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    14/07/2015 15h36

    O ex-chanceler Celso Amorim festejou duplamente o acordo sobre a questão nuclear iraniana.

    Primeiro, pelo acordo em si, "um passo importante para resolver um problema crucial para a região e para a paz mundial".

    Depois, pelo fato de o Brasil ter contribuído "com um grãozinho de areia" nesse dossiê, ao mostrar que "era possível ter um acordo".

    É uma óbvia alusão ao fato de que o primeiro acordo nuclear com o Irã foi assinado em 2010, na gestão Lula/Amorim, envolvendo também a Turquia.

    O ex-chanceler, um dos negociadores do acordo de 2010, diz que o Brasil abriu o caminho, ao "apostar sempre em uma solução positiva" —ou seja, no diálogo como contraposição ao confronto.

    Amorim lamenta, no entanto, que o Ocidente tenha perdido tempo, ao torpedear o acordo Brasil/Turquia/Irã, para voltar ao caminho do diálogo apenas cinco anos depois.

    É claro que o ex-chanceler não compara o acordo de 2015 com o de 2010. O atual, diz, é muito mais complexo.

    Cita um dos elementos do acordo de cinco anos atrás, a transferência para a Turquia de 1.200 quilos de urânio pobremente enriquecido, para ser enriquecido a um nível que não poderia ser usado para chegar à bomba, mas serviria para fins pacíficos.

    Naquela época —lembra Amorim—, o Irã tinha em estoque entre 2.000 e 2.200 quilos de urânio pobremente enriquecido.

    Entregar 1.200 quilos foi, aliás, o pedido que o presidente Barack Obama fez em carta a Lula e ao então primeiro-ministro turco, Recep Erdogan, enviada um mês antes da viagem dos dois governantes a Teerã.

    Agora, completa Amorim, o Irã tem algo em torno de 10.000 quilos de urânio, o que torna "muito mais complexo" o transporte da quantidade que vier a ser acertada para enriquecimento externo.

    A perda de tempo que o ex-chanceler lamenta fez com que "se deixasse de partir para um acordo em condições melhores".

    Além disso, os cinco anos transcorridos tiveram "um custo econômico e humano enorme para o Irã".

    Um segundo elemento para lamentar a perda de tempo é o fato de que, se o Ocidente tivesse se engajado no acordo Brasil/Turquia/Irã, para torná-lo mais abrangente, o país persa estaria colaborando há mais tempo com os Estados Unidos no combate ao terrorismo do Estado Islâmico (EI).

    Editoria de Arte/Editoria de arte
    PRINCIPAIS PONTOS DO ACORDO NUCLEAR COM O IRÃCompromissos assumidos por cada um

    "Talvez o EI não tivesse assumido a importância que assumiu, se essa cooperação começasse mais cedo", suspira Amorim.

    Hoje, embora ainda inimigos, Washington e Teerã estão do mesmo lado quando se trata de enfrentar o radicalismo islâmico.

    De todo modo, Amorim se diz "feliz" com o acordo desta terça-feira (14), também por devolver o Irã ao convívio com a comunidade global, depois da quarentena imposta pelo problema nuclear.

    "O Irã é fator fundamental para o novo equilíbrio regional a ser criado com esse acordo", diz Amorim.

    Irã

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