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    Análise

    Irã é grande vencedor de acordo nuclear com potências

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS (VENEZUELA)

    15/07/2015 07h30

    O Irã é o grande vencedor do acordo nuclear firmado recentemente com potências mundiais. E não apenas por conseguir manter praticamente intacta sua capacidade atômica, dobrando ocidentais que, há apenas três anos, exigiam a suspensão total do enriquecimento de urânio.

    Teerã dá um salto rumo à sua reinserção no sistema econômico mundial, do qual havia sido marginalizado devido a sanções em três frentes (ONU, EUA, União Europeia) e à exclusão do sistema bancário, em 2012.

    O aperto nunca colocou a república islâmica de joelhos, ao contrário do que se diz, mas complicou seriamente as finanças de um Estado com gastos colossais em subsídios, programas sociais e remessas a grupos e governos aliados.

    Irã

    O acordo de Viena deixa claro que o levantamento das sanções é um objetivo em si. Isso permitirá ao Irã revigorar exportações de petróleo e drenar investimentos para estimular uma infraestrutura de gás e petróleo tradicional consumidora de tecnologia europeia de ponta, mas obrigada a recorrer a equipamentos chineses de baixa qualidade por causa das sanções.

    Teerã assimilou a queda do preços de petróleo a um terço do que foram no auge da bonança de 2008 e sabe que os rivais sauditas continuarão inundando o mercado para empurrar ainda mais os preços para baixo.

    O Irã, ao contrário da Venezuela, desenvolveu indústria, tecnologia e agricultura que o tornam bem menos dependente das oscilações petroleiras. E estes setores também sairão beneficiados com uma normalização da agenda econômica iraniana.

    Empresários ocidentais —inclusive alguns americanos— batem ponto nos hotéis de luxo de Teerã desde a chegada ao poder do presidente Hasan Rowhani, em 2013. Uns fazem prospecção de investimento, inclusive na área turística, cobiçada pelas maiores redes hoteleiras. Outros querem voltar ao país, como a Peugeot. A Austrian Airlines reabriu seus voos para Teerã em 2014.

    Há, ainda, os que querem vender. O Irã é um mercado de 77 milhões de consumidores com forte propensão ao consumo e altos índices de instrução.

    Todos esses estrangeiros ávidos por fechar negócios com parceiros iranianos devem, em breve, poder fazê-lo de forma mais aberta e institucional.

    Não se sabe se o processo reverterá o desemprego e a inflação, mas a perspectiva é de um Irã mais próspero e mais conectado ao mundo. Isso reforçará pragmáticos e conciliadores, como o presidente Hasan Rowhani, mas não será suficiente para tirar do jogo forças internas avessas à mudança. O antagonismo entre facções está no DNA do sistema iraniano.

    Um dos grupos incomodados com a perspectiva de mudanças é a Guarda Revolucionária, elite militar que controla boa parte da economia e tirou proveito do isolamento do Irã.

    Se a guarda não conseguir manter privilégios nem beneficiar-se do novo contexto, poderá causar problemas à Presidência de Rowhani.

    Editoria de Arte/Editoria de arte

    O jornalista SAMY ADGHIRNI foi correspondente no Irã entre 2011 e 2014

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