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    Análise

    História explica medo de Israel em relação ao Irã

    MÁRIO CHIMANOVITCH
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    17/07/2015 11h39

    A rejeição israelense, quase paranoia, à assinatura do acordo nuclear firmado na terça-feira (14) entre o Irã e as potências ocidentais capitaneadas pelos Estados Unidos, pode ser explicada à luz da própria história do povo judeu, submetido a perseguições pela Igreja Católica na Idade Média, aos pogroms na Europa Oriental no século 19 e à tragédia terrível que foi o Holocausto na Segunda Guerra mundial.

    Segurança é a palavra-chave que determina as ações políticas e militares de Israel. É esse conceito, na realidade, não o "expansionismo imperialista" de que seus adversários o acusam, que tem impedido a concretização de um compromisso de paz com os palestinos que implicaria na devolução da quase totalidade dos territórios ocupados da Cisjordânia e a consequente materialização de um Estado vizinho com o qual os israelenses confiem que poderão viver em paz.

    Já a posição do Irã e o ódio visceral que seus aiatolás devotam ao Estado judaico, pregando diariamente a sua destruição, podem ser entendidos menos pelo fato dos israelenses negarem a independência aos palestinos e mais pela estreita colaboração que uniu israel ao Irã do xá Reza Pahlavi até a eclosão da revolução de Khomeini.

    Israel, juntamente com os Estados Unidos, foi o segundo maior fornecedor de armas e tecnologia militar ao Irã pré-revolucionário. Em contrapartida, o xá supria Israel do petróleo necessário. Mais sério ainda: os israelenses são acusados de haver treinado a Savak, a temível polícia secreta do xá, que perseguia, torturava e assassinava os opositores do regime, justamente aiatolás e seus seguidores.

    O apoio ao regime imperial e a acusação de treinar a Savak nunca foram perdoados, e Israel, assim como os EUA, passou a ser considerado como o "demônio sionista" a ser destruído.

    Israel, por seu turno, defende-se sempre dessas acusações e insiste que o Irã, com o levantamento dos recursos financeiros até então congelados e a ajuda de países como a Síria, o Iraque e o Iêmen, continuará direta ou indiretamente a fomentar o terrorismo internacional.

    Além de visar Israel, essa "coalizão do mal", como define o premiê Netanyahu, poderá vir a desestabilizar regimes aliados do Ocidente, como o da Arábia Saudita. Os sauditas, especulam os israelenses, poderão buscar a sua própria bomba atômica para se defender de um Irã expansionista e agressivo.

    VOZES DISSONANTES

    Agora, firmado o acordo, Israel e os países árabes moderados (Arábia Saudita e emirados do Golfo) parecem ser as únicas vozes dissonantes na celebração do acordo com o Irã.

    O governo de Binyamin Netanyahu mantém um tom desafiante em sua rejeição, deixando mais do que explícito que Israel não endossa nem se sente obrigado a reconhecer um acordo que considera como espúrio e que coloca, não só Israel, mas a humanidade de modo geral, menos seguro diante de um país hostil ao Ocidente que irá —garante Netanyahu— ludibriar Barack Obama e continuar secretamente a produzir urânio e plutônio para a elaboração de armas de destruição em massa.

    "Nós saberemos nos defender", proclama o premiê israelense, lembrando que Israel possui os meios necessários para tornar inócuo o perigo potencial iraniano.

    Na verdade, enfatizam os analistas, o acordo firmado em Viena coloca várias e sérias implicações para o establishment de Defesa israelense.

    Em longo prazo, a comunidade de Inteligência (Mossad e agências afins) se defrontará com um dos maiores desafios de sua existência.

    Em outras palavras, terá de monitorar muito de perto as atividades nucleares de um regime que, estão persuadidos, fará de tudo para ludibriar os inspetores da agência fiscalizadora de suas atividades nessa área.

    Terão, os agentes israelenses, de agir num território extremamente hostil cuja extensão é quase cinco vezes superior a da Alemanha.

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