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    Análise

    Candidatos populistas agitam corrida presidencial dos EUA

    MICHAEL KEPP
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    17/07/2015 15h18

    Com a eleição presidencial dos Estados Unidos ainda a 15 meses de distância, dois populistas econômicos em extremos opostos do espectro ideológico, Donald Trump e Bernie Sanders, estão disparando nas pesquisas e podem levar os candidatos moderados de ambos os partidos a reavaliarem a ameaça que representam.

    Trump, um conhecido e bilionário empreendedor que anunciou sua candidatura à indicação do Partido Republicano em junho, estava em primeiro lugar em uma pesquisa sobre as primárias conduzida em junho pela revista "Economist", com 15% das preferências entre os entrevistados. O ex-governador Jeb Bush estava em segundo lugar, com 11% das intenções de voto entre os 15 candidatos que disputam a vaga.

    Brendan McDermid - 16.jun.2015/Reuters
    Donald Trump, um dos candidatos à indicação do Partido Republicano para a Presidência dos EUA
    Donald Trump, um dos candidatos à indicação do Partido Republicano para a Presidência dos EUA

    O jornal "The New York Times", citando resultados semelhantes, afirmou em 14 de julho que "a disparada de Trump nas pesquisas não mostra sinais de recuo".

    Desde que Sander, senador que se declara socialista, tornou-se candidato à indicação do Partido Democrata, em maio, ele também vem reduzindo a distância que o separa de Hillary Clinton, antiga secretária de Estado e ainda a favorita do eleitorado democrata, por margem considerável. Além disso, Sanders agora vem atraindo plateias maiores do que Hillary.

    A crescente popularidade de Trump e Sanders demonstra que muitos norte-americanos estão em busca de alternativas mais autênticas e radicais (e menos roteirizadas) do que os cautelosos candidatos centristas dos dois partidos podem oferecer.

    AMEAÇAS

    A possibilidade de vitória de Trump e Sanders nas primeiras primárias dos partidos, que ocorrerão em Iowa e New Hampshire em 2016, encerra riscos.

    Essas disputas estaduais atraem principalmente as "bases" de eleitores —progressistas, no caso do Partido Democrata, e ultraconservadores, no caso dos Republicanos—, categorias cujos números cresceram com a polarização política do público norte-americano nos últimos anos.

    Se um cenário como esse se manifestar, Hillary, Bush e outros candidatos de centro podem considerar a adoção de posições mais radicais a fim de conter o ímpeto de Trump e Sanders e vencer primárias em outros Estados —vitórias necessárias para a conquista da indicação presidencial de seus partidos.

    Joshua Roberts/Reuters
    Bernie Sanders, senador, disputa indicação do Partido Democrata à Casa Branca
    Bernie Sanders, senador, disputa indicação do Partido Democrata à Casa Branca

    Até agora isso não está acontecendo.

    Trump, populista de direita que argumenta que os imigrantes hispânicos estão roubando empregos dos norte-americanos, recentemente acusou o México de "enviar pessoas com muitos problemas... elas trazem drogas e crime. São estupradores. E alguns eu presumo que sejam boas pessoas".

    No entanto, Bush e o senador Marco Rubio, outro dos pré-candidatos republicanos, que apoiam uma reforma modesta na imigração, precisam dos eleitores hispânicos, que representam 17% da população, para vencer a eleição presidencial. Por isso, eles definiram os comentários ofensivos de Trump como "divisivos".

    Sanders, populista de esquerda que promete redistribuir a riqueza, advoga aumentar os impostos dos ricos e se opõe aos acordos de comércio internacional que prejudicam os trabalhadores norte-americanos. Mas Hillary não vem apresentando propostas de políticas específicas, afirmando apenas que a imensa disparidade de renda precisa ser reduzida, sem assumir posição sobre os acordos comerciais.

    MANTENDO A CAUTELA

    Hillary, Bush e Rubio estão, por enquanto, mantendo posições moderadas e cautelosas porque, se adotarem posturas mais radicais e populistas para vencer as primárias, será mais difícil para eles conquistarem a Presidência, disputa em geral decidida por eleitores moderados, a maioria dos quais não pertence a qualquer partido.

    Isso acontece porque o resultado da eleição presidencial é quase sempre determinado pelo candidato que vence nos Estados americanos considerados indecisos, ou seja, nos quais nenhum dos partidos tem apoio esmagador.

    Bush e Rubio também mantêm posições centristas porque provavelmente ainda têm na memória um episódio que minou a candidatura à Presidência de Mitt Romney, em 2012, contra Barack Obama. Durante um debate com oponentes republicanos mais radicais, Romney deu uma virada à direita e apelou aos imigrantes ilegais que "se autodeportassem". Como resultado, conquistou apenas 27% do voto hispânico naquela eleição.

    Romney também perdeu porque, em um vídeo gravado secretamente, disse a doadores ricos de verbas de campanha que 47% dos norte-americanos eram "vítimas... dependentes do governo".

    Na eleição de 2016, os indicados de cada partido terão de apelar a esses 47% para expandir seu apoio na classe média, porque esse é o único caminho que leva à Casa Branca.

    MICHAEL KEPP, jornalista americano radicado há 32 anos no Brasil, é autor do livro de crônicas "Tropeços nos Trópicos" (ed. Record)

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