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    Atrito diário é marca do convívio em Jerusalém

    CATIA SEABRA
    EM TEL AVIV

    18/07/2015 17h00

    Aos 30 anos, B. é um expatriado em sua terra natal. Não tem cidadania nem pode votar. Sem passaporte, não poderá voltar para a família caso deixe Israel. Ele nasceu em Jerusalém. Mas é palestino.

    "Sou cidadão de segunda classe. A todo tempo sou lembrado de que sou diferente", diz ele, que não fala hebraico.

    Filho de pais também nascidos em Jerusalém, B. conta que foi morar no exterior aos 24 anos. Estudou no Reino Unido e na Dinamarca. Fez mestrado na Alemanha.

    Muammar Awad/Xinhua
    Domo da Rocha, mesquita de Al -Aqsa, em Jerusalém
    Domo da Rocha, mesquita de Al -Aqsa, em Jerusalém

    Ao voltar, cinco anos depois, tinha perdido o status de residente permanente, concedido a cerca de 1,5 milhão de árabes que moram em Israel. Recorreu ao governo, mas o pedido foi três vezes negado, sob o argumento de que não há comprovação de laços com o país.

    B. tem hoje um título de residente fixo e depende da concessão de um passe para viajar. "Tenho primos que casaram no exterior, viveram lá e não podem voltar para casa", afirma, no apartamento onde vive em Tel Aviv.

    B. admite que são remotas as chances de obter passaporte. Diz esperar que o Oriente Médio "seja um lugar pacífico, que se olhe para frente".

    "Não é fácil ser privado do passaporte e do direito de voltar para casa e ver que esse mesmo governo abre as portas para todo mundo se tornar cidadão em um ano", diz, referindo-se a imigrantes judeus, que nesse prazo recebem cidadania provisória.

    DISCÓRDIA HISTÓRICA

    Árabes muçulmanos que vivem na cidade encontram outros tipos de barreira.

    A Esplanada das Mesquitas, no centro histórico de Jerusalém, é frequentemente palco dessa discórdia histórica.

    Em um domingo, sob sol inclemente, dezenas de visitantes esperaram durante uma hora a abertura do acesso ao Domo da Rocha, monumento sagrado para o islã, quando são informados de que, por medida de segurança, a Esplanada das Mesquitas –endereço do templo– estaria fechada à visitação.

    Autoridades afirmaram que muçulmanos lançaram pedras contra o complexo para evitar a entrada de turistas no mês sagrado do Ramadã.

    O lugar é administrado por autoridades religiosas muçulmanas, mas sob o controle do Estado de Israel. Contíguo à Esplanada das Mesquitas, o Muro das Lamentações teve a segurança reforçada.

    Com o mais recente conflito entre Israel e o grupo palestino Hamas completando um ano neste mês, o ambiente fica mais tenso.

    Assessor para assuntos internacionais da Presidência de Israel, David Saranga questiona a chance de um acordo ser fechado um dia. Com a negociação parada, ele afirma que o cenário é mais tenso que há cinco anos.

    "Quando Israel vê todas essas ameaças na região, se pergunta: este é o momento para um acordo?", diz.

    Distantes da impossibilidade de acordo, autoridades israelenses investem na imagem do país no exterior.

    Há quatro anos, uma universidade treina estudantes para que se tornem "embaixadores de Israel no mundo", com dois meses de curso por semestre e viagens patrocinadas por empresários.

    A jornalista CATIA SEABRA viajou a convite da Associação Aliança Cultural Brasil-Israel

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