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    Moradores de Havana disputam espaço por wi-fi público

    SAMY ADGHIRNI
    ENVIADO ESPECIAL A HAVANA

    22/07/2015 02h00

    Na rua La Rampa, no centro de Havana, dezenas de jovens sentados em bancos ou escadarias de prédios teclam compulsivamente em seus smartphones.

    É a febre do recém-inaugurado wi-fi público, que atrai cada vez mais cubanos para o mundo da internet.

    "Estou completamente viciado", diz o vendedor de artesanato Ivan I., 25, a colegas que o repreendem por aproveitar a ausência do chefe para se conectar na rua.

    O vício de Ivan, como muitos novos internautas na ilha, é o Facebook –especialmente conversas com moças cubanas que migraram para os Estados Unidos.

    "Poucos têm internet aqui, então o jeito é conversar com gente no exterior", afirma o rapaz.

    Joaquin Hernandez/Xinhua
    Cubanos usam laptops e celulares para tentar se conectar ao wi-fi público em Havana, capital do país
    Cubanos usam laptops e celulares para tentar se conectar ao wi-fi público em Havana, capital do país

    Ivan descobriu a internet quando o governo inaugurou o wi-fi em La Rampa e em 34 outros pontos em todo o país, há três semanas.

    Até então, os cubanos dependiam de centros de internet, com filas gigantes, ou de conexões domésticas precárias e, muitas vezes, ilegais.

    Críticos dizem que o governo percebeu que a estratégia de abertura econômica será inócua se o país permanecer à margem da internet.

    Menos de 4% dos lares têm conexão, segundo dados da ONU. O governo promete superar 50% de residências conectadas até 2020.

    Para acessar o wi-fi público, é preciso criar uma conta de e-mail na estatal de comunicações (o que, em tese, restringe o uso a cidadãos cubanos) e comprar crédito na forma de cartão de raspar.

    O preço, de aproximadamente US$ 2 (R$ 6,30) por hora de navegação, é altíssimo num país onde o salário mensal de um professor muitas vezes não chega a US$ 15 (R$ 47,25). Usuários dizem que a conexão doméstica é ainda mais cara e mais lenta.

    INEXPERIÊNCIA

    Na rua La Rampa, o wi-fi permite até ver vídeos, mas, numa sociedade inexperiente na internet, alguns ainda não sabem disso.

    Fã de rock pesado, o comerciante Ernesto, 39, fica extasiado quando o repórter lhe mostra clipes das bandas Metallica e Guns N' Roses no Youtube.

    "Que maravilha, uma entrevista do Axl Rose [vocalista do Guns N' Roses] com legenda em espanhol!", vibra Ernesto, que admite não dominar sites de busca e clica em tudo o que aparece.

    Ao seu lado, a estudante Laura, 18, irrita-se por não conseguir encontrar um amigo no Facebook.

    Outro rapaz se deleita vendo modelos de sapatos no site da Louis Vuitton.

    Ao contrário de países como Irã ou China, a internet em Cuba tem poucos filtros de censura.

    Até sites abertamente opositores ao governo cubano, como o do jornal "Miami Herald" e da emissora Fox News, podem ser acessados sem dificuldades.

    Páginas de pornografia, porém, são bloqueadas. O mesmo ocorre com o Skype e o Facetime.

    Nos quatro pontos de wi-fi por onde a Folha circulou nos últimos dias, a maioria navegava em smartphones de tecnologia ultrapassada comprados em Cuba.

    Os mais bem equipados haviam recebido iPhones ou laptops de parentes ou amigos no exterior.

    "Essa onda de internet na rua está só começando", diz um aposentado num bairro a oeste de Havana.

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