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    Pelo Facebook, egípcios denunciam deterioração dos serviços públicos

    KAREEM FAHIM
    MERNA THOMAS
    DO "NEW YORK TIMES"
    NO CAIRO, EGITO

    01/08/2015 02h00

    Quando o primeiro-ministro do Egito visitou dois hospitais no Cairo, em junho, ele declarou ter ficado chocado com a deterioração que encontrou.

    Porém, só ele se surpreendeu.

    Os médicos egípcios postam centenas de fotos em uma página no Facebook que mostra as precárias condições nas instalações médicas de todo o país: pacientes enfaixados dormindo nos corredores, animais percorrendo enfermarias e manchas de sangue deixadas no chão até que coagulem.

    Khaled Desouki/AFP
    Quarto de hospital egípcio; população usa postagens em redes sociais para denunciar situação pública
    Quarto de hospital egípcio; população usa postagens em redes sociais para denunciar situação pública

    O esforço deles inspirou uma série de outras páginas que ilustram o estado miserável de outras instalações públicas. Todas receberam o mesmo título, "se ele vier, não poderá se surpreender" -uma indireta ao primeiro-ministro que reflete a crítica dos egípcios à classe governante do país, cujos integrantes raramente se aventuram entre os governados.

    As queixas ilustram décadas de fracassos do governo egípcio, como se pode ver em cantos ignorados das grandes e pequenas cidades do país.

    Como seus predecessores, o governo de Abdel Fattah el-Sisi oferece poucas maneiras de o público expressar suas preocupações. Apelar à mídia social, até recentemente um instrumento de sublevação política no país, agora parece mais um último recurso.

    "Há tantas queixas, tantas frustrações, tantas coisas sobre as quais as pessoas desejariam gritar", disse Rasha Abdulla, professora de jornalismo na Universidade Americana do Cairo. "Essa é mais ou menos a única maneira de falar às pessoas que detém o poder -não existem outros caminhos".

    O governo de Sisi continua a desfrutar de amplo apoio, e muita gente no país atribui a ele o crédito pela melhora dos serviços de eletricidade e pelo retorno dos policiais às ruas.

    No entanto, o Legislativo foi dissolvido há mais de três anos. Os funcionários dos governos locais são encarados como corruptos, impotentes ou ausentes. Boa parte da mídia noticiosa egípcia se ocupa principalmente da transmissão de mensagens do governo ao público. As vozes mais fortes da oposição estão na cadeia ou deixaram o país.

    "Nada está melhorando por aqui -e antes estava", disse George Gamal, 26, farmacêutico no bairro de Imbaba, no Cairo, que responde por uma das novas páginas do Facebook, com posts que lamentam as ruas sem calçamento e as pilhas de lixo não recolhido. Gamal disse que o primeiro-ministro Ibrahim Mehleb deveria visitar o bairro em pessoa. "Ele precisa conversar com as pessoas daqui".

    Mesmo que a presença de Mehleb pudesse ser útil, não há como ele estar em toda parte ao mesmo tempo.

    Uma página no Facebook mostra montanhas de lixo em Alexandria e no Cairo. Universitários se queixam de salas de aula superlotadas e de sistemas manipulados que permitem que os filhos da elite se tornem assistentes de ensino.

    As páginas parecem ter causado impacto. Estações de TV entrevistaram as pessoas que as criaram e realizaram reportagens sobre algumas das queixas. O Ministério do Interior prometeu investigar um policial acusado de comportamento abusivo e ameaçador.

    Embora "seja ótimo quando alguma coisa acontece", disse Abdulla, "ao final das contas é preciso ter um sistema. Não há equilíbrio entre os poderes, a impunidade é gritante e ninguém é culpado. Ou, se a culpa é atribuída a alguém, é só verbalmente, para contentar a mídia".

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