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    Conciliador, governista Daniel Scioli tenta atrair descontentes

    MARIANA CARNEIRO
    DE BUENOS AIRES

    09/08/2015 02h00

    Candidato da situação à Presidência da Argentina e governador da província de Buenos Aires, o peronista Daniel Scioli, 58, é um sobrevivente. Desde que entrou na vida pública, em 1997, converteu-se em aliado de políticos que se revezaram como arqui-inimigos.

    Seu primeiro padrinho, Carlos Menem (1989-99), virou "persona non grata" sob os Kirchner, e o segundo, Eduardo Duhalde (2002-2003), foi exilado do poder.

    Enrique Marcarian/Reuters
    O governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, chega às urnas como primeiro colocado nas primárias
    O governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, chega às urnas como primeiro colocado nas primárias

    Mas Scioli sobreviveu. Elegeu-se vice de Néstor Kirchner e, na arte de se metamorfosear, transformou-se em kirchnerista fiel para receber a bênção da presidente Cristina nestas eleições.

    "Não me parece que Scioli tenha ambição pelo poder. Ele concorre à Presidência como se isso fosse um prêmio, e está convencido de que é seu destino", diz à Folha o jornalista Walter Schmidt, um dos autores da biografia "Scioli Secreto" (2015).

    Ex-piloto de lanchas em corridas de velocidade, Scioli perdeu o braço direito em um acidente em 1989 durante uma prova no rio Paraná.

    Os médicos sugeriram que sua mulher, a ex-modelo Karina Rabolini, trocasse os botões das camisas por velcro, para facilitar a adaptação após o acidente. Mas Scioli optou por outro caminho.

    Com uma prótese, poucos meses depois voltou a pilotar lanchas e teve aulas para aprender a escrever com a mão esquerda. Nunca quis saber de psicólogos. Dois anos depois se tornou campeão mundial na categoria Super Boat. "O acidente fez com que Scioli desenvolvesse resistência infinita", afirma Schmidt.

    Eleições na Argentina

    A história de superação se transformou em um importante traço de sua personalidade, que ele também aplica na propaganda política.

    Durante a campanha, Scioli mostrou na TV que sabe fazer o nó da gravata apenas com uma das mãos e apresentou seu talher adaptado, uma mistura de faca e garfo no mesmo instrumento.

    A obstinação pela Presidência e a resistência de atleta fizeram com que o político não reagisse a críticas lançadas por kirchneristas nos últimos anos, o que produziu como efeito colateral uma imagem de passivo para a opinião pública.

    Seus detratores dizem que, se ele ganha a eleição, quem governará será Cristina, forçando-o a reafirmar seu poder a cada discurso. Seus aliados, porém, declaram que não há dúvida de que quem pilotará será Scioli.

    Nascido em uma família rica, ele vive em uma grande propriedade às margens do rio Luján, na Grande Buenos Aires, onde ainda passeia de lancha. Mas seu esporte atual é o futsal. Joga com o time que criou, chamado o Villa La Ñata, e disputa campeonatos oficiais na Argentina.

    Na área externa de sua casa estão espalhadas estátuas em tamanho real de personalidades argentinas, como Evita e Juan Perón, Lionel Messi e Diego Maradona. É nesse lugar que Scioli reúne amigos, artistas e aliados em fins de semana da "família Scioli", uma fauna diversa que inclui de celebridades da TV a empresários e economistas.

    Talvez seja essa diversidade o maior trunfo do político Scioli, que promete o diálogo entre diferentes para reconciliar a sociedade argentina, polarizada entre kirchneristas e antikirchneristas.

    Ele espera contar com o Brasil no intento de reabrir gradualmente a Argentina ao mundo. Uma pista disso será a visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Argentina, anunciada por Scioli para o dia 10 de setembro. O candidato imagina que o brasileiro turbinará sua campanha no país e no exterior.

    Scioli parece ter no Brasil a inspiração para suas propostas, algumas das quais adaptam ideias como as UPAs 24 horas e o BNDES.

    Mimetizando Lula em sua primeira campanha presidencial, Scioli tentará se vender como o candidato "paz e amor" para afugentar os problemas que o esperam, caso seja eleito presidente.

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