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    Cresce xenofobia contra imigrantes ciganos na Suécia

    STEPHEN CASTLE
    DO "NEW YORK TIMES"
    EM ESTOCOLMO, SUÉCIA

    15/08/2015 02h00

    Depois de mendigar diante de bares e clubes noturnos, Gheorghe Rancu, migrante sem teto da Romênia, dormia em um parque em Estocolmo, na Suécia, quando sentiu um forte ardor no rosto. "Senti a pele se soltando, levantei-me depressa e fechei os olhos", disse, apontando para o parque onde lhe jogaram um fluido corrosivo que a polícia suspeita que contivesse cloro.

    Com o tratamento no hospital, Rancu, 27, conseguiu evitar cicatrizes. Porém, o ataque deixou outra marca. Foi um dentre um número crescente contra imigrantes romas, ou ciganos, uma tendência que desafia a reputação da Suécia como um dos países mais tolerantes e receptivos da Europa.

    Moa Karlberg/The New York Times
    Elena Stanescu, à esq., e Mariana Ion foram vítimas de ataque de extremistas em Moscou
    Elena Stanescu, à esq., e Mariana Ion foram vítimas de ataque de extremistas em Moscou

    Enquanto os refugiados de fora da Europa que ganham asilo no país adquirem o direito de receber benefícios sociais básicos, os migrantes europeus pobres que não têm emprego —notadamente os romas errantes— geralmente recebem pouca ou nenhuma ajuda da rede de segurança do governo.

    A Suécia aprovou 31.220 pedidos de asilo no ano passado de refugiados vindos de fora da União Europeia, mas hoje luta contra o influxo de migrantes de países pobres do sul da Europa, como a Romênia. Os migrantes têm liberdade para viajar para onde quiserem dentro do bloco de 28 países.

    "A questão está sendo discutida em todas as cidades da Suécia", disse Sven Hovmoller, vice-presidente de uma organização criada para dar apoio aos migrantes sem-teto. O fenômeno estimulou a ascensão de um partido populista de direita anti-imigração, os Democratas da Suécia, que recebeu 13% dos votos nas eleições nacionais no ano passado.

    "Na Suécia, a ausência de um partido anti-imigrantes fazia parte da identidade nacional", disse Andreas Johansson Heino, do instituto de pesquisas Timbro. "Pensávamos que aqui não tivéssemos esses partidos populistas."

    Mendigar não é ilegal na Suécia, mas os Democratas Suecos querem criminalizar a atividade, pelo menos no que o partido chama de sua forma "organizada".

    A polícia diz que há cerca de 4.000 mendigos na Suécia. A visibilidade dos mendigos -muitas vezes carregando suas posses nas grandes sacolas plásticas azuis da loja Ikea- desconcertou muitos suecos. Em sua sociedade afluente e organizada, a mendicância tem sido rara, segundo Anna-Sophia Quensel, pesquisadora da Expo, organização criada pelo escritor Stieg Larsson para combater o extremismo de direita. "Está dividindo a sociedade", disse ela.

    Hoje há um bolsão surpreendente de pobreza em Hogdalen, perto do centro de Estocolmo. Lá, um grupo de 50 a 60 romas vive em tendas e cabanas sem água, eletricidade ou banheiros, numa clareira entre as árvores.
    Funcionários de entidades beneficentes dizem que, embora alguns romas cometam pequenos crimes, eles estão sofrendo coisas muito piores. Segundo relatos na mídia, a Expo contou 77 ataques contra mendigos nos últimos 18 meses.

    O governo indicou um coordenador nacional, Martin Valfridsson, para cidadãos vulneráveis da UE. Ele defende mudanças na lei para ajudar a processar migrantes que controlam pontos de mendicância e exigem uma parte do dinheiro arrecadado. Além disso, quer simplificar o processo de expulsão de mendigos de acampamentos improvisados. "Você não pode simplesmente viver na floresta", disse. "Se você vier para a Suécia, tem de garantir que tem dinheiro suficiente para um simples acampamento ou pensão."

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