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    Para ex-assessor de Obama, eleição venezuelana precisa de observador

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    16/08/2015 02h00

    A Venezuela terá muita dificuldade para honrar seus compromissos externos e a eleição legislativa do país perderá credibilidade se o presidente Nicolás Maduro não permitir a entrada de observadores internacionais.

    Esse é o alerta de Arturo Valenzuela, 71, ex-secretário-assistente de Estado dos EUA, encarregado do hemisfério ocidental, e professor da Universidade Georgetown.

    Segundo Valenzuela, que vem ao Brasil dar palestra na Fundação iFHC, é hora de os países da região se unirem, seja por meio da Unasul, seja por meio da OEA, para atuar na crise venezuelana.

    Leia abaixo trechos da entrevista concedida por telefone por Valenzuela.

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    Susana Gonzalez - 20.out.2013/Bloomberg/Getty Images
    O ex-secretário-assistente do Departamento de Estado dos EUA Arturo Valenzuela
    O ex-secretário-assistente do Departamento de Estado dos EUA Arturo Valenzuela

    FolhaDe que maneira a reaproximação entre Cuba e EUA muda a situação geopolítica da América Latina?

    Arturo Valenzuela - A reaproximação ajuda a reduzir tensões históricas entre os EUA e países da região ao mostrar que os americanos estão dispostos a acabar com o legado da Guerra Fria.
    Isso não quer dizer que haverá um grande mudança no curto prazo, pois o embargo a Cuba ainda existe e não pode ser derrubado sem que o Congresso modifique a Lei Helms Burton (que o instituiu).

    Quais são os reflexos da crise política brasileira?
    Eu não tenho seguido muito de perto, mas aparentemente há uma séria crise de confiança. E quando você tem uma crise política aliada a uma crise econômica, é muito mais difícil projetar liderança internacionalmente, porque o país fica muito mais focado nos problemas internos.

    A Venezuela está em situação crítica. Se efetivamente o país entrar em colapso político e econômico, quais serão as repercussões na região?
    A Venezuela é o país que enfrenta o maior desafio na América Latina.
    A enorme queda nos preços do petróleo, além de redução da produção, é crítica para um país que é tão dependente do produto para o Orçamento nacional e a geração de divisas para importação.
    Não estou dizendo que a Venezuela dará calote na dívida externa, mas está cada vez mais difícil o país honrar seus compromissos externos.
    Nessa situação, é claramente do interesse de todos que os países da região se unam, renovem o esforço hemisférico, para atuar na crise venezuelana. Não importa se por meio da Unasul, da OEA (Organização dos Estados Americanos) ou da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos).
    É preciso conversar e trabalhar com todos os segmentos políticos da Venezuela.

    O senhor está preocupado com a legitimidade das eleições legislativas deste ano na Venezuela?
    É essencial que as eleições sejam vistas como legítimas não apenas pelo público externo mas pela população venezuelana. E o melhor jeito de garantir essa legitimidade é aceitar a presença de observadores. Se não aceitarem observadores (como afirmou o presidente Nicolás Maduro), ficará muito difícil a eleição ter credibilidade.

    As economias mais dinâmicas da América Latina são Chile, Peru, Colômbia e México, que são parte da Aliança do Pacífico ou da Parceria Trans-Pacífico, ainda em negociação. Qual é o destino do Mercosul?
    É necessário fazer a ressalva de que os países da Aliança do Pacífico também foram afetados pela queda nos preços das commodities.
    Mas a grande diferença é que o Mercosul tem se caracterizado pelo protecionismo, pela ênfase em proteger seus mercados internos.
    A menos que haja maior abertura no Mercosul, será muito difícil para o bloco [avançar]. Os países da Aliança do Pacífico impressionam porque, apesar de não constituírem uma união aduaneira, mantêm entre os Estados-membros tarifas muito mais baixas do que as mantidas entre os países do Mercosul.

    Quais foram os resultados concretos da reaproximação entre Brasil e EUA?
    Eu era secretário-assistente de Estado quando a visita de Dilma Rousseff a Washington foi cancelada (após o caso de espionagem da agência de segurança dos EUA).
    O principal da visita de junho foi mostrar que os dois países deixaram para trás o caso Snowden e estão dispostos a começar do zero.

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