• Mundo

    Saturday, 04-May-2024 21:27:57 -03

    Ex-presidente da Colômbia usa redes sociais para manter seu poder

    SYLVIA COLOMBO
    DE SÃO PAULO

    18/08/2015 02h30

    "Sou mentiroso, Santos tem razão: eu o recomendei dizendo que seria um governante sincero e correto."

    Com esse tuíte, o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, 63, começou a última quinta (13). E, assim como faz cotidianamente desde que rompeu relações com o sucessor, Juan Manuel Santos, 64, passou o dia a atacá-lo.

    Luis Eduardo Noriega/Efe
    O ex-presidente colombiano Álvaro Uribe durante lançamento de seu partido, em março de 2014
    O ex-presidente colombiano Álvaro Uribe durante lançamento de seu partido, em março de 2014

    A estratégia virtual de Uribe contra o ex-filhote político tem dado resultados.

    Por meio de sua conta de Twitter, que tem hoje mais de 3 milhões de seguidores (1 em cada 16 habitantes do país) e uma rede de informações espalhada por vários departamentos (Estados), ele conseguiu manter contato diário com seu eleitorado, fundar um partido (o Centro Democrático) e eleger mais de 40 congressistas, liderados por ele mesmo, hoje senador.

    Nos últimos meses, Uribe subiu o tom contra como Santos conduz as negociações de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em Havana.

    Uribe ataque Santos por meio do Twitter

    Passou, também, de comentarista a acusador, vazando informações, comunicações por rádio e fotos do Exército e da guerrilha e questionando a versão oficial.

    "Uribe não apenas tuíta opiniões. Ele tem apoiadores políticos e militares em várias partes do país, que replicam suas postagens, aumentando a repercussão", disse à Folha José Alejandro González Torres, professor da Universidad de la Sabana e especialista em estratégias digitais.

    "Sua rede de informações inclui altos comandos das Forças Armadas, políticos regionais, muita gente que se beneficiou durante sua gestão [2002-10]. Além disso, é um excelente comunicador."

    Para convencer o país de que o acordo está falido, por exemplo, veicula fotos de crianças feridas no conflito.

    RELAÇÃO DELICADA

    Desde que abriu sua conta, em 2009, o ex-presidente emitiu mais de 37 mil tuítes.

    O episódio mais recente da conflituosa relação dos dois ex-aliados —Santos foi ministro da Defesa de Uribe, mas rompeu com o mentor após ser eleito, em 2010— foi um embate sobre a queda de um helicóptero militar em Antioquia no começo de agosto.

    Enquanto o governo dizia que havia sido um acidente causado pelo mau tempo, o ex-presidente divulgou transmissão de rádio da polícia que afirmava algo diferente.

    "Escuto um áudio que diz que o helicóptero foi atingido por disparos de fuzil", disse no primeiro tuíte, pouco antes de divulgar a gravação.

    A polícia local foi obrigada a admitir a autenticidade do registro, mas afirmou que o oficial se equivocara. Já o ministro da Defesa, Luis Carlos Villegas, disse que não aceitaria que "se tomasse por certeza a hipótese mentirosa", e acrescentou que investigaria os vazamentos de Uribe.

    Advertiu-o, ainda, pedindo que parasse de divulgar informações que envolvam a segurança nacional.

    "Santos foi eficaz ao cortar o cordão umbilical com Uribe, mas incapaz de construir uma proposta alternativa. Não se pode romper com alguém e continuar respondendo a ele", afirmou à Folha o analista Mauricio Vargas, colunista do jornal "El Tiempo".

    "Ele e os ministros cometem o erro de contestar tudo que diz Uribe. Quem dá a agenda de debate político na Colômbia ainda é o ex-presidente."

    Uribe ainda usa o Twitter para defender ex-subordinados condenados por corrupção e tráfico de influência, como a ex-chefe de inteligência Maria del Pilar Hurtado e o ex-ministro da Agricultura, Andrés Felipe Arias.

    "Ele solta mensagens curtas e contundentes. E não se cansa de repetir até convencer", diz o cientista político Andrés Dávila.

    POPULARIDADE

    Desde o ano passado, a popularidade de Uribe passou de 47% para 59%.

    Já Santos viu sua aprovação cair dos 51% de votos que o elegeram para 29%.

    Analistas citam sua inabilidade em manter a aliança entre partidos de direita, centro e esquerda que permitiu sua vitória em 2014.

    As pesquisas também revelam preocupação dos colombianos com a economia.

    Segundo estimativas oficiais, o país deve crescer 3% em 2015, o que é alto considerando o cenário de desaceleração das economias regionais, mas decepcionante para um país que vinha crescendo por volta de 5%.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024