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    Desconhecimento de problemas caracteriza visão dos EUA sobre Brasil

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    23/08/2015 03h00

    A crise política no Brasil não tem impacto negativo nas relações com Washington nem atrasa a cooperação bilateral.

    Este é o discurso oficial dos dois países, que enfatizam a virada de página formalizada com a visita de Dilma Rousseff ao país, em junho, depois da crise causada pelo escândalo de espionagem americana da presidente brasileira, que a fez cancelar a visita anterior, em 2013.

    30 jun. 2015 - Roberto Stuckert Filho/PR
    Dilma Rousseff e Barack Obama durante encontro dos dois presidentes em Washington
    Dilma Rousseff e Barack Obama durante encontro dos dois presidentes em Washington

    Por trás da normalização, porém, o que caracteriza a visão americana é o desconhecimento do que se passa no Brasil. Especialistas de centros de estudos e funcionários do Departamento de Estado têm dificuldade de entender a crise no país e, em muitos casos, prevalece o desinteresse.

    Com a diplomacia americana concentrada em temas considerados cruciais para o legado do presidente Barack Obama, como a reaproximação com Cuba e o acordo nuclear com o Irã, resta pouca atenção para países como o Brasil.

    "É uma questão de geopolítica. Na América do Sul não há ameaças aos Estados Unidos, como Estado Islâmico e Al Qaeda", diz James Green, professor de estudos brasileiros da Universidade Brown, no norte dos EUA.

    O desconhecimento geral sobre o Brasil no país é inegável, muitas vezes até mesmo entre aqueles que deveriam, por ofício, acompanhar os acontecimentos, como diplomatas americanos e os chamados "especialistas em América Latina".

    Há gestos isolados de destaque, como o afago de Obama durante a visita de Dilma, ao chamar o Brasil de "potência global". Ou o recente editorial do "The New York Times" alertando para os riscos de um impeachment da presidente sem uma base legal.

    Para o pesquisador Peter Hakim, entretanto, o encolhimento da política externa do governo Dilma em relação à hiperativa diplomacia presidencial de Lula, aliado à crise recente, contribuiu para empurrar o desconhecimento para algo pior: o risco de irrelevância. Na opinião dele, a crise é "terrível" para as relações bilaterais.

    "O Brasil é muito menos importante hoje para os EUA do que era havia alguns anos", diz Hakim, presidente emérito do centro de estudos Diálogo Interamericano.

    Pior que a timidez diplomática de Dilma, afirma, é a percepção de que o país vai mal. "O governo brasileiro precisa entender que sua influência internacional se deve ao que faz dentro, não fora do país."

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