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    Pesquisas e eleitores explicam a popularidade de Donald Trump

    MICHAEL BARBARO
    NATE COHN
    JEREMY W. PETERS
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    24/08/2015 11h33

    Nos centros de comando das campanhas presidenciais republicanas, os assessores dos pré-candidatos se consolam com a ideia de que o domínio de Donald J. Trump nas pesquisas de opinião representa um casinho de verão político, como aconteceu com Herman Cain em 2011 —um pequeno boom insustentável, dependente da celebridade, da atração que Trump exerce sobre setores estreitos do público e de pesquisas pouco confiáveis feitas com americanos que têm histórico problemático de realmente ir votar em eleições primárias. Um conjunto crescente de evidências sugere que essa ideia talvez não se sustente.

    Uma revisão das pesquisas públicas, entrevistas extensas com grande número de partidários de Trump em dois Estados e uma nova sondagem privada baseada em registros de votação, todos apontam para a conclusão de que Trump formou uma coalizão ampla, demográfica e ideologicamente diversificada, construída em torno de sua personalidade, não do teor de suas propostas —uma coalizão que lança uma ponte sobre divisões demográficas e políticas. Com isso, ele se protege das consequências de declarações espantosas que, se fossem feitas por candidatos rivais, implicariam em seu fracasso imediato.

    Em repetidas pesquisas de opinião entre republicanos, Trump lidera entre as mulheres, apesar de ter descrito algumas delas como "porcas gordas" e "animais nojentos". Ele lidera entre os cristãos evangélicos, apesar de ter dito que nunca teve um motivo para pedir perdão a Deus. Lidera entre os eleitores moderados e com ensino superior, não obstante sua mensagem populista e anti-imigração que se pensava que encontraria eco principalmente entre os eleitores conservadores e mais pobres. Ele lidera entre os eleitores mais frequentes, que têm probabilidade maior de ir às urnas, apesar de atrair sobretudo eleitores que têm pouco histórico de sair para votar.

    O caráter incomum da base de apoio de Trump está longe de garantir que sua campanha sobreviva até as eleições primárias de 2016, o que dirá depois delas. A diversidade dessa base pode até resultar em seu fracasso, se, por exemplo, o apoio que Trump manifestou no passado a políticas liberais e as doações que já fez a democratas acabarem por enfraquecê-lo junto a eleitores republicanos. E as pesquisas de opinião sugerem que no final Trump se chocará com um muro intransponível: a maioria dos republicanos não é a favor de sua candidatura, e é pouco provável que mude de posição. Mesmo hoje, mais eleitores republicanos o rejeitam terminantemente que o número daqueles que dizem apoiá-lo.

    A amplitude da base de apoio de Trump é surpreendente nestes tempos de divisões religiosas, ideológicas e geográficas dentro do Partido Republicano. Ela sugere que Trump tenha o potencial de superar as candidaturas inesperadas que perturbaram as últimas disputas de primárias republicanas. E dá um indício do problema que seus rivais encaram e das pressões crescentes sobre eles para fazer frente a ele, coisa que vários deles, como Jeb Bush e Scott Walker, estão começando a fazer.

    O apoio a Trump não está ligado a uma única questão política ou sentimento —imigração, ansiedades econômicas ou desejo de enfrentar o establishment. Esses fatores podem ter criado condições para o crescimento de sua candidatura, mas são a personalidade de Trump, sua celebridade e sua ousadia, não apenas seu populismo e suas posições, que lhe permitem tirar vantagem de tudo isso. Perguntados sobre por que são a favor de Trump, eleitores de origens diversas apresentam os mesmos argumentos, dizendo que ele é corajoso, que admiram sua franqueza e gostam do fato de ele não ser politicamente correto. Os dados e as entrevistas sugerem que o trumpismo é uma atitude, não uma ideologia.

    Para eleitores como Jan Mannarino, professora aposentada de 65 anos que este mês viajou uma hora de carro de sua casa em Green Oak Township, Michigan, para ver Trump falar, a maior qualidade do empresário é o fato de ele contestar as normas políticas.

    "Mesmo que ele não ganhe, está ensinando outros políticos a parar de ser políticos", ela explicou. "Ele não tem travas na língua. Poderia dizer o que quer dizer mais gentilmente, mas acho que ninguém lhe daria ouvidos."

    Uma revisão feita pelo "New York Times" de nove sondagens nacionais não partidárias e outras pesquisas públicas feitas nos primeiros Estados que terão primárias mostra que, até agora, Trump está à frente de seus rivais republicanos em bases de eleitores nos quais eles esperavam predominar. Por exemplo, ele lidera o senador texano Ted Cruz, herói dos conservadores fiscais, por 26% a 13% entre os partidários do Tea Party, segundo médias das últimas nove pesquisas nacionais. Lidera o ex-governador do Arkansas Mike Huckabee, ex-pregador, entre os eleitores evangélicos, por 21% a 12%. E está à frente de Jeb Bush, ex-governador da Flórida e favorito dos doadores moderados, por 22% a 16% entre os republicanos moderados.

    As pesquisas nacionais e os pesquisadores públicos e partidários têm dificuldade em identificar as fontes precisas da popularidade de Trump; muitos a atribuem à raiva e angústia do eleitorado republicano. Mas entrevistas com eleitores destacam como sua popularidade está ligada à sua personalidade, oferecendo uma resposta a um enigma: por que as declarações desmedidas de Trump, sua falta de lealdade ao Partido Republicano e seus ataques ásperos a rivais não prejudicaram sua posição?

    Para muitos republicanos, suas declarações mais ofensivas confirmam o fato de Trump ser um outsider singular que está disposto a contestar as convenções. E elas teriam satisfeito uma ânsia dos eleitores por franqueza sem rodeios.

    Perguntado se Trump foi longe demais com a linguagem que utiliza, Carl Tomanelli, 68, policial aposentado de Londonderry, New Hampshire, pareceu surpreso com a pergunta. "Acho que as pessoas estão começando a ver que toda essa história de correção política é besteira. Acho que Trump ecoa o que muitas pessoas sentem e dizem", ele respondeu.

    Muitos eleitores dizem ser a favor de Trump devido às suas declarações incomuns, e não apesar delas.

    Perguntada por que Trump continua a gozar de apoio tão grande, Lisa Carey, 51, de Greenfield, New Hampshire, imediatamente citou a franqueza do candidato.

    "Por mais que algumas das coisas que ele diz sejam inapropriadas, acho que que o ele fala é o que muita gente pensa, mas tem medo de falar. E olhe que sou mulher."

    Ao mesmo tempo em que dezenas de pesquisas nacionais e estaduais mapeiam a ascensão constante de Trump, as campanhas de outros candidatos republicanos se consolam na convicção de que essas pesquisas seriam falhas ou enganosas. Em entrevistas, os pesquisadores das campanhas argumentam que essas sondagens, em sua maioria feitas por universidades e organizações de mídia, se baseiam no feedback de muitos republicanos que provavelmente não irão às urnas votar, porque as sondagens não verificam o registro partidário ou histórico de voto dos entrevistados, fato reconhecido pelos responsáveis por essas pesquisas.

    Novos dados transmitidos ao "New York Times" pela firma Civis Analytics, alinhada com os democratas e fundada pelo ex-chefe de análises da campanha de reeleição do presidente Barack Obama, mostram que essas considerações têm mérito, mas não o suficiente para questionar a liderança de Trump. Curiosa em relação ao panorama das primárias republicanas, a firma decidiu ver o que poderia aprender com sua própria pesquisa, inicialmente para finalidades de pesquisa interna.

    Diferentemente da maioria das pesquisas públicas, a da Civis foi feita com eleitores registrados que forneceram seu histórico de voto, permitindo que fosse medido o apoio a Trump entre eleitores que costumam ir às urnas em eleições primárias.

    Feita por telefone fixo entre 10 e 19 de agosto e tendo margem de erro de quatro pontos percentuais para mais ou para menos, a pesquisa indica que Trump tem a preferência de 16% dos eleitores cadastrados que se identificaram como republicanos. É um número inferior ao indicado por qualquer pesquisa pública em mais de um mês, mas que ainda supera qualquer outro pré-candidato. Ben Carson teve a preferência de 11% dos entrevistados e Jeb Bush, de 10%.

    Uma pesquisa que levasse em conta as características da população adulta, como fazem a maioria das organizações nacionais de mídia em suas pesquisas, teria mostrado Trump com dois pontos acima da pesquisa da Civis, que foi ajustada para refletir as características dos eleitores cadastrados que se identificam como republicanos. A pesquisa foi feita com 757 eleitores de tendência republicana, muito mais que os entrevistados em outras pesquisas dos pré-candidatos republicanos.

    "O apoio real a Trump é inferior ao que vemos nas pesquisas hoje", disse Masahiko Aida, o cientista principal de pesquisas da Civis.

    A pesquisa Civis também apontou um potencial problema para Trump: os Estados, incluindo o Iowa e o Nevada, que só permitem que republicanos cadastrados votem em primárias. Trump teve o apoio de 14% dos republicanos cadastrados nesses Estados, contra 18% dos eleitores não filiados ao partido.

    Como era esperado, Trump se saiu melhor entre os eleitores menos frequentes. Ele teve o apoio de 22% dos eleitores de tendência republicana que não foram votar na eleição geral de 2012. Mas, com 15% das preferências, ainda tem a preferência entre os republicanos cadastrados que votaram em uma eleição primária desde 2008.

    "Quer a pessoa tenha votado em duas, oito ou 12 eleições, Trump lidera", disse Aida.

    Tradução de CLARA ALLAIN

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