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    Fechada, fronteira entre Colômbia e Venezuela vê comércio minguar

    SAMY ADGHIRNI
    ENVIADO ESPECIAL A SAN ANTONIO DEL TÁCHIRA

    28/08/2015 02h10

    Nos últimos oito dias, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fechou parte da fronteira com a Colômbia, deportou mais de 1.100 colombianos e declarou estado de exceção na região por dois meses.

    A justificativa era acabar com o contrabando e normalizar o abastecimento de alimentos e produtos básicos.

    Mas o que se vê na cidade de San Antonio Del Táchira, principal ponto de passagem entre os dois países, é o aumento das filas e do caos nos supermercados, sinal mais evidente do impacto econômico causado pelas medidas.

    Samy Adghirni/Folhapress
    Colombianos deixam suas casas na favela de Pequeña Barinas, em San Antonio del Táchira
    Colombianos deixam suas casas na favela de Pequeña Barinas, em San Antonio del Táchira

    Na manhã de quinta (27), centenas de pessoas se aglomeravam aos gritos e empurrões diante do Supermercado Económico, onde se vendem produtos a preço tabelado.

    "O governo não disse que eram os colombianos que causavam desabastecimento ao levar mercadoria para seu país? Os colombianos foram expulsos, e veja as filas", exaltou-se uma senhora, ignorando soldados com fuzis que circulavam no local.

    As filas aumentaram porque o fechamento da fronteira gerou um nervosismo que levou moradores a tentarem estocar todo tipo de produto, acirrando ainda mais o desabastecimento crônico que assola toda a Venezuela.

    "Ninguém sabe como serão as coisas de agora em diante. Estamos todos preocupados", diz o técnico em informática Enzo Rubio, 28.

    O bloqueio da fronteira também priva venezuelanos da possibilidade de contornar o desabastecimento comprando nas lojas e farmácias do país vizinho, situadas a minutos de caminhada.

    "Os preços são muito mais altos na Colômbia, mas ali se encontra tudo", diz Rubio.

    Moradores da região ouvidos pela Folha admitem, sob condição de anonimato, que o contrabando era uma fonte de renda extra.

    O contrabando mais rentável é o da gasolina. É comum a prática de encher o tanque na Venezuela (por menos de R$ 1) e esvaziá-lo na Colômbia, onde o combustível é revendido dez vezes mais caro.

    Com a fronteira fechada, o movimento nos postos de gasolina da região despencou.

    LOJAS VAZIAS

    O comércio minguou em San Antonio Del Táchira e outras cidades fronteiriças onde vigora o estado de exceção. Muitas lojas continuam fechadas, apesar de o governo ter ameaçado invadir e tomar mercadorias dos comércios que se recusam a abrir.

    Os que abrem, com exceção dos supermercados, ficam vazios, como a venda de material elétrico de Justino Herrera, 64. "Quase todos os clientes vinham do outro lado. Quando você acha que vão reabrir a fronteira?"

    Ao menos 50 mil pessoas transitavam diariamente na fronteira na área de San Antonio del Táchira, segundo a Câmara de Comércio local.

    Autoridades colombianas estimam o prejuízo diário em US$ 400 mil para empresas locais, algumas das quais exportam para o mundo a partir de portos na Venezuela.

    O governo venezuelano, que ignora pedidos de contato da Folha, não divulga cifras e afirma em que o fechamento da fronteira irá melhorar a vida da população.

    Outra queixa dos comerciantes diz respeito à saída dos trabalhadores colombianos, que foram deportados ou fugiram após terem tido as casas marcadas para ser demolidas pelo governo.

    "Da noite para o dia, indústrias, oficinas e restaurantes ficaram sem sua melhor mão de obra, e isso afeta a produção", diz José Rozo, da Câmara de Comércio local.

    Ele diz que o fechamento da mesma fronteira ordenado em 2008 pelo então presidente venezuelano, Hugo Chávez, extinguiu 25 mil empregos diretos e indiretos.

    "Não adianta culpar os colombianos. O desabastecimento decorre da falta de produção. Isso não será resolvido com controle do câmbio e de preços e perseguição a empresários", diz Rozo.

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