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    Arqueólogos apostam em impressoras 3D contra ações do Estado Islâmico

    DIOGO BERCITO
    EM MADRI

    31/08/2015 17h04

    O patrimônio histórico do Oriente Médio, incluindo ruínas que remontam à Antiguidade, pode ser salvo não pelo Exército ou pela vinda de um novo messias —e sim por uma impressora 3D.

    Arqueólogos de um projeto baseado em Oxford estão distribuindo, nestas semanas, 5.000 câmeras 3D ao redor da região. Eles pedem que usuários registrem objetos e monumentos para organizar, até o fim do ano, um acervo de 1 milhão de imagens tridimensionais.

    A documentação pode ser utilizada, no futuro, na reconstrução da herança cultural da região. Por exemplo, de um templo como o recentemente destruído pelo Estado Islâmico no oásis de Palmira, no deserto sírio.

    O projeto do Instituto da Arqueologia Digital não tem, por ora, o objetivo de recriar monumentos. A meta é, segundo o diretor Roger Michel, construir um acervo a partir do qual governos podem decidir, no futuro, devolver à vida objetos e construções que foram perdidos.

    "Mas a ideia dá esperança às pessoas, e uma possível resposta a esse desastre político", afirma Michel em entrevista à Folha, por telefone.

    Há desacordo entre arqueólogos e historiadores a respeito da reconstrução de monumentos desaparecidos. Mas a discussão corre o risco, segundo Michel, de ser apenas teórica no futuro, caso o instituto não reúna essas imagens tridimensionais.

    "As reconstruções acontecem há muito tempo", diz. "As construções clássicas na Sicília foram reerguidas após terremotos no século 19. Isso permitiu que as pessoas vissem coisas que, de outra maneira, não poderiam ver."

    MATERIAL

    As reconstruções em 3D seriam feitas, provavelmente, em concreto. Assim como diversos monumentos romanos, aliás, afirma Michel. A depender do detalhamento das imagens, construções poderiam ser reproduzidas de maneira bastante fiel, para uma pessoa que as observasse com alguma distância.

    Em casos específicos, por exemplo, de um friso importante em uma edificação, seria possível trabalhar com imagens em maior resolução para permitir os detalhes. Esse tipo de decisão seria tomada caso a caso, na hipótese da técnica 3D ser aplicada.

    A prática, diz o arqueólogo Michel, é a parte menos problemática do processo. "Essa é uma tecnologia utilizada diariamente na China, na construção. O desafio é reunirmos essas imagens."

    CONCEITUAL

    Hoje a maior ameaça ao patrimônio histórico do Oriente Médio é o Estado Islâmico, uma organização terrorista que proclamou há um ano seu califado num território que inclui trechos dos Estados do Iraque e da Síria.

    Seus militantes seguem uma interpretação rigorosa do islã que considera essas ruínas como símbolos de idolatria. A eliminação de monumentos é feita a exemplo da tradição que diz que Maomé destruiu ícones em Meca durante o século 7.

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