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    Em tempos de austeridade, Elizabeth 2ª quebrará recorde sem festa

    LEANDRO COLON
    DE LONDRES

    08/09/2015 17h11

    A rainha Elizabeth 2ª, 89, vai inaugurar nesta quarta-feira (9) uma linha de trem na Escócia e jantar no seu castelo de Balmoral com membros da família, entre eles o príncipe William e a duquesa Kate Middleton.

    Pode nem parecer, mas será dia de um recorde para ela e a monarquia britânica. Quando o relógio do Big Ben, em Londres, passar das 17h30 (13h30, horário de Brasília), Elizabeth 2ª se tornará a monarca com mais tempo de trono na história da Coroa : 63 anos e 217 dias, superando a tataravó Vitória (1819-1901).

    Não há celebração pública programada por parte dela. Há uma expectativa de que ela possa citar o recorde em discurso no evento da linha férrea. E olhe lá. Mesmo assim, exibições e celebrações paralelas têm lembrado o recorde.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Em tempos de austeridade fiscal do governo, a família real tenta demonstrar sintonia com o aperto no bolso dos súditos.

    Ou seja, passando longe da pompa da comemoração do jubileu de diamante em 2012, que teve direito a passeio real pelo rio Tâmisa e à cidade de Londres toda decorada (na época, o governo estimou em £ 1,3 bilhão o custo na economia só com dois dias de feriado para festas na primeira semana de junho).

    Além disso, a mídia britânica diz que Elizabeth 2ª, que não dá entrevistas, preferiu a discrição também por respeito aos monarcas antepassados.

    A presença na inauguração de uma linha de trem teria sido uma escolha para mostrar que mantém suas atividades de dever ao povo.

    No cálculo do Palácio de Buckingham, Vitória foi rainha por 23.226 dias, 16 horas e 23 minutos. A conta é feita a partir do dia da morte do monarca anterior, no caso George 3º, e não da data de coroação.

    Elizabeth 2ª assumiu em 6 de fevereiro de 1952, após a morte do pai George 6º, mas recebeu a coroa em 2 junho do ano seguinte.

    Chefe de Estado do Reino Unido e dos países que integram a Commonwealth (entre eles, Austrália, Canadá e Nova Zelândia), Elizabeth 2ª atinge a marca com a popularidade em alta, sem sinais de que abdicará para o filho Charles, e com monarquia blindada de qualquer risco de ser abolida.

    A repercussão do nascimento da bisneta Charlotte, segundo filho de William e Kate, mostrou porque a Coroa também é um grande negócio: a estimativa é de que o turismo em torno da monarquia arrecade £ 500 milhões por ano.

    O economista brasileiro Amauri Hernandez, 62, e sua mulher, Maria Aparecida, 62, compraram ingressos na última sexta-feira (4) para conhecer por dentro o Palácio de Buckingham, aberto todos anos entre julho e setembro. "Acabei de falar para o meu marido: na próxima encarnação quero ser rainha", brincou a brasileira.

    REPRESENTATIVIDADE

    Para o doutor Matthew Glencross, especialista do King´s College de Londres em história da monarquia britânica, o principal desafio de Elizabeth 2ª foi manter a Coroa representativa, como sinônimo de estabilidade política, apesar de transformações no mundo desde 1952.

    "Ela viu de tudo: uma guerra mundial, um governo de coalizão, a criação do mercado comum europeu. Isso mostra que a monarquia ainda pode funcionar no século 21 como uma instituição relevante, apesar das mudanças", diz.

    Ele avalia que o gesto dela de abrir mão de celebrar o recorde tem, essencialmente, uma questão financeira como pano de fundo, para evitar exposição.

    "Ela não vê a monarquia como um privilégio, mas como uma obrigação para com o país, herdou isso de seu avô, George 5º", diz Glencross.

    As pesquisas mostram que mais de 70% apoiam que a rainha tenha suas despesas custeadas pelos cofres públicos, mas menos de metade acha que seu neto Harry, por exemplo, mereça o mesmo tratamento.

    Entre 2014 e 2015, £ 35,7 milhões de libras foram gastas com o fundo que administra as despesas oficiais da rainha, como viagens, e a manutenção dos castelos usados pela família real.

    Desse valor, £ 18 milhões foram para despesas com os 426 funcionários ligados a esse serviços.

    Os ativistas de um grupo republicano, que defende a extinção da monarquia, estima que a família real custe dez vezes mais, porque estaria omitindo outros despesas, como £ 100 milhões com segurança.

    À Folha, Graham Smith, um dos líderes desse movimento republicano, ironiza o recorde a ser quebrado nesta quarta: "Não haverá celebração porque não há o que celebrar. O que deveria haver neste momento é mais responsabilidade e transparência com o gasto do dinheiro público".

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