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    Em Washington, comício de Trump só reúne convertidos

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    10/09/2015 02h00 Erramos: o texto foi alterado

    De costas para o Congresso dos EUA, o bilionário Donald Trump despejou todo o seu desprezo pelo sistema político americano, marca registrada de sua badalada pré-candidatura à Casa Branca. O alvo da vez era o recente acordo nuclear com o Irã.

    "Já fiz muitos acordos, excelentes, é o que eu faço. Nunca na vida vi uma transação negociada de forma tão incompetente", disse o empresário, arrancando gritos de apoio da plateia. "Somos liderados por pessoas muito estúpidas. Não podemos permitir que isto continue".

    Convocado por Trump, o ato contra o acordo assinado em julho entre o Irã e seis potências reuniu um público com opinião formada sobre o assunto. O gramado do Capitólio não lotou. A maioria dos que atenderam ao chamado era de simpatizantes da ala ultraconservadora do Partido Republicano, o Tea Party.

    Alguns cartazes faziam previsões apocalípticas, com fotomontagens de uma bomba atômica iraniana explodindo em Washington.

    Jim Lo Scalzo/Efe
    Em Washington, Donald Trump discursa em ato de repúdio ao acordo nuclear com o Irã
    Em Washington, Donald Trump discursa em ato de repúdio ao acordo nuclear com o Irã

    Outros lembravam os gritos de "morte aos EUA" e "morte a Israel" ouvidos em manifestações no Irã.

    Para completar o status de astro pop com toques de humor apocalíptico, Trump subiu ao palco ao som de "It's the End of the World as We Know it" (é o fim do mundo como o conhecemos), da banda R.E.M. –que tem posição política progressista.

    Apesar de não ter sido um comício puramente, muitos dos presentes eram entusiastas da candidatura de Trump.

    "Ele tem coragem para peitar nossos inimigos, como o Irã, e defender nossa economia das ameaças externas, como a China", disse Josh Glickman, 26, de camisa da campanha de Trump e enrolado em uma bandeira de Israel. Morador da Filadélfia, dirigiu quase 300 km para o comício.

    Trump discursou por dez minutos, repetindo o repertório contra o establishment político e sobre como irá restaurar o poderio americano.

    "Vamos virar este país de cabeça para baixo. Começaremos a ter grandes vitórias comerciais e militares", disse, sem detalhes. "Teremos um Exército tão forte que ninguém se meterá com a gente. Nem precisaremos usá-lo."

    Cercado por fãs e jornalistas, Trump levou o dobro de tempo para deixar o local do que a duração de seu discurso. Se o discurso é antiestablishment, o figurino era o clássico aspirante a presidente, nas cores da bandeira americana: terno azul, camisa branca e gravata vermelha.

    Kelsey Wendelberger, 22, foi a única que conseguiu furar a barreira de seguranças e cumprimentar o bilionário, que agradeceu sua presença.

    "Ele tem um bom aperto de mão", disse Kelsey, sorrindo. Ela ainda não decidiu se apoiará Trump, mas disse que foi ao comício porque se opõe ao acordo com o Irã.

    "Não dá para negociar com um regime que patrocina o terrorismo", explicou.

    HILLARY

    O dia acabou sendo de duelo à distância entre os líderes deste começo de disputa pela Casa Branca em 2016.

    Horas após o evento republicano, a favorita entre os democratas, Hillary Clinton, fez sua mais veemente defesa do acordo nuclear, ecoando o governo ao dizer que o trato impede o Irã de ter a bomba.

    Hillary ganhou nesta quarta outro adversário –o quinto– na disputa pela candidatura democrata. É Lawrence Lessig, professor de direito da Universidade Harvard reverenciado pela esquerda pós-revolução cibernética.

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