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    Análise

    Com visita ao Irã, Brasil reaparece no tabuleiro do Oriente Médio

    HUSSEIN KALOUT
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    12/09/2015 02h00

    Após a conclusão das negociações nucleares entre o Irã e seis potências mundiais, em julho, Teerã transformou-se na capital médio-oriental mais visitada desde então.

    A conversão do Irã na mais nova atração política no contexto global e regional está ancorada, basicamente, em três vetores estruturais: 1) a consolidação de sua influência política como potência regional e detentora de extraordinários instrumentos para estabilização da região; 2) seu promissor potencial comercial; 3) o avanço científico-tecnológico de setores econômicos como o industrial, o energético e o de serviços.

    O restabelecimento desse diálogo tende a abrir lacunas para importantes transformações na conjuntura geopolítica e econômica da região.

    O reflexo da retomada dessa aproximação é evidenciado na intensidade e no diâmetro político das visitas de alto nível que inundam os salões diplomáticos de Teerã.

    O governo iraniano acolheu desde junho cerca de 20 delegações estrangeiras. Países europeus —Alemanha, Itália, Espanha, França, Reino Unido, Sérvia, República Tcheca, Áustria, Noruega e Suíça— lideram a corrida ao Irã, seguidos pelos países do Extremo Oriente, notadamente, Japão e Coreia do Sul.

    Além disso, a visita dos diretores-gerais de organizações como a FAO (braço da ONU para alimentação e agricultura) e a Organização Mundial da Saúde se traduzem na reintegração do Irã à comunidade internacional.

    Dados da Chancelaria iraniana revelam que, ao longo dos últimos 15 meses, cerca de cem delegações de investidores e empresários visitaram o país, dos quais cerca de 90% pertencem a empresas do eixo ocidental, entre os quais, os Estados Unidos.

    Ademais, a conversação com os iranianos não se restringe ao espectro comercial.

    Componentes políticos como a crise dos refugiados sírios, o combate à organização terrorista Estado Islâmico, o imobilismo da política libanesa, a intervenção saudita no Iêmen, a estabilidade regional e a segurança de Israel têm tido peculiar atenção.

    BRASIL

    É nesse cenário que a visita do Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, ao Irã se circunscreve.

    A reaproximação entre Brasília e Teerã se reveste de singular importância e poderia servir para a reinserção do Brasil nos macrotemas geopolíticos do Oriente Médio.

    Além de aguçado senso de oportunidade e de percepção política, é fundamental que o chanceler brasileiro saiba como tracionar os interesses nacionais do Brasil de forma a não fazer refluir essa investida estratégico-diplomática.

    Apesar da afluência de mazelas na região, o perfil do Brasil é singular entre os atores internacionais que buscam influir na arquitetura da política regional e na ornamentação do equilíbrio de poder no Oriente Médio.

    Nesse sentido, é imperativo que o Itamaraty tenha clareza estratégica e tática de como moldar esse novo padrão de diálogo diplomático com Teerã nas esferas comercial e política, sobretudo no desmantelamento do regime de sanções comerciais.

    A libertação do Irã do casulo e o reconhecimento ocidental de sua importância como um dos polos hegemônico no Oriente Médio exigirão da diplomacia brasileira perspicácia na matização do jogo geopolítico e na recomposição do tabuleiro regional.

    Apesar de não ter integrado o chamado P5+1, que negociou o acordo, a tese da diplomacia brasileira inerente às controvérsias que circundavam a natureza do programa nuclear iraniano venceu.

    No escopo do acordo assinado em Viena, foram preservados dois pilares centrais defendidos pelo Brasil: 1) a preservação do direito dos Estados signatários do Tratado de Não Proliferação a um programa nuclear pacífico; 2) a solução diplomática do impasse ao invés da força.

    A visita poderia servir, ainda, para estimular o diálogo positivo sobre temas multilaterais como segurança e paz, refugiados e direitos humanos, desatando assimetrias e criando pontes entre o Irã e a comunidade internacional.

    A atuação brasileira ocorre na hora certa e na mesma frequência dos demais atores mundiais interessados em explorar as potencialidades do Irã. A missão de Mauro Vieira pode restaurar a presença brasileira no Oriente Médio.

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