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    Radical de esquerda é o novo líder do Partido Trabalhista britânico

    LEANDRO COLON
    DE LONDRES

    12/09/2015 08h04

    Kirsty Wigglesworth/Associated Press
    O novo líder trabalhista britânico Jeremy Corbyn, durante discurso neste sábado
    O trabalhista britânico Jeremy Corbyn discursa neste sábado após ser anunciado novo líder do partido

    O Partido Trabalhista, principal oposição ao governo conservador de David Cameron, anunciou neste sábado (12) o nome de Jeremy Corbyn, 66, como seu novo líder no Parlamento britânico. Em tese, ele é o candidato natural a primeiro-ministro nas eleições de 2020.

    Apontado como integrante da ala de esquerda radical da legenda, Corbyn obteve 60% dos votos numa eleição interna contra outros três candidatos, entre eles, Liz Kendall, apoiada pelo ex-premiê Tony Blair (1997-2007).

    Sua escolha é vista como uma nova era e uma aposta de risco para o Partido Trabalhista, que sofreu dura derrota para os conservadores na última eleição, em maio. Veterano no cenário britânico, Corbyn é um "outsider" num partido levado ao centrismo nos últimos 20 anos, em um movimento iniciado por Blair.

    Corbyn defende, entre outras coisas, o fim da austeridade fiscal implementada pelo atual governo conservador, o aumento de impostos para ricos e mais proteção à área social. Na política externa, se opôs à participação britânica na Guerra do Iraque e é simpatizante da causa palestina. É a favor da permanência do Reino Unido na União Europeia e da "renacionalização" de empresas privatizadas de energia e transportes.

    Se diz republicano, embora tenha deixado claro que não pretende fazer disso uma bandeira contra a monarquia britânica. Seu estilo informal, em que dispensa o terno e a gravata na maioria das ocasiões, gera comparações com membros do partido de esquerda Syriza, da Grécia. Na última sexta, Corbyn saiu de casa para trabalhar de bermuda e camiseta, algo incomum na formalidade britânica.

    Em seu discurso de vitória, Corbyn disse que o resultado demonstra o desejo dos trabalhistas de combater a "desigualdade e injustiça" no Reino Unido. "Isso levou as pessoas a um espírito de esperança e otimismo", afirmou. Ele dedicou o resultado aos eleitores jovens do partido, afirmando que há uma nova geração de britânicos determinada a mudar o país.

    APÓS DERROTA

    Na eleição de maio, o então líder Ed Miliband, escolhido líder em 2010, não conseguiu impedir a vitória dos conservadores e a reeleição de Cameron. O enfraquecimento da ala centrista de Blair e o fracasso de Miliband, que surfou pela centro-esquerda na campanha, abriram espaço para o fortalecimento de uma ala mais radical. Na campanha, Blair declarou que a vitória de Corbyn seria a "destruição" do seu partido.

    O novo líder é quem comanda o partido, escolhe uma espécie de gabinete paralelo ao governo e enfrenta o primeiro-ministro todas as quartas em um debate no Parlamento transmitido pela televisão. Especialistas e lideranças trabalhistas têm questionado quais as reais chances de um nome como Corbyn ser viável para recuperar o poder perdido desde 2010. Desafetos de Corbyn, sobretudo a ala ligada a Blair, já indicaram que tentarão realizar nova escolha no futuro caso ele não demonstre força para 2020.

    A sombra do desastre de 1983, quando o então líder Michael Foot, também alinhado à ala de esquerda da legenda, sofreu uma derrota histórica para Margaret Thatcher, ainda assusta os trabalhistas.

    Para o professor de Ciência Política Tim Bale, da Queen´s University, Corbyn tentará, porém, impor sua agenda, mesmo que os colegas de partido tentem boicotá-lo. "Seu programa será influente, não há dúvidas. Os membros do partido, em particular os do Parlamento, terão que abrir a cabeça e cooperar com ele ou sentar e esperar, como querem, que ele caia por si mesmo nos próximos anos", diz.

    O processo de escolha do líder ajuda a explicar os motivos que levaram ao fenômeno Corbyn: uma reforma no sistema eleitoral do partido no ano passado deu o mesmo peso dos votos a todos filiados - antes, o voto era dividido proporcionalmente entre sindicatos, membros do Parlamento britânico, do Parlamento europeu e os demais.

    Além disso, abriu-se espaço para que eleitores temporários, chamados de "apoiadores", votassem pagando uma taxa de £ 3 (R$ 17). Com a mudança nas regras, a chance de um político como Corbyn ganhar virou realidade: estima-se que 90% desses "apoiadores" votaram nele. A votação ocorreu nas últimas quatro semanas pelo correio e on-line. Ao todo, 422 mil pessoas votaram.

    O caso de Corbyn não é isolado. Um político também alinhado à esquerda foi escolhido na sexta (11) para ser o candidato trabalhista à prefeitura de Londres em 2016: Sadiq Khan, 44, filho de imigrantes paquistaneses (o pai era motorista de ônibus) e advogado de temas relacionados a direitos humanos.

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